Já é sabido, neste contexto, que especulações teológicas devem ser esquecidas, imaginação deve dar o tom da leitura, personagens são referidas com muito carinho e respeito e temor a Deus e a sua palavra permanecem.
Um coral com milhares de vozes afinadíssimas canta num palco destacado num ambiente lindíssimo do céu. O hino entoado é “Adoração”: “A Deus, supremo benfeitor / Vós anjos e homens dai louvor / A Deus o Filho, A Deus o Pai / A Deus Espírito, Glória daí / Amém, Amém, Amém”. Repetido diversas vezes, sempre com alegria maior.
Recebido naquele instante, Isaltino Gomes Coelho Filho observa atentamente o coro de salvos, digerindo a letra em atitude de adoração. Pensamentos passeiam em sua mente e o levam a um estado de adoração perfeita. O coro desaparece e ele caminha em direção a um rio de águas límpidas, em cujas margens, árvores frondosas e belas dão o toque da beleza. Pega um livro e começa a ler. Sorri. Reflete. Analisa. Faz apontamentos. E, ao terminar, é interrompido...
“Isaltino, meu preclaro, adentraste aos umbrais celestiais?”.
“Éber Vasconcelos, meu mestre! Quanta saudade...”.
“Isaltino, aqui, não sentimos saudade...”.
“É que estou há pouco, mestre, e ainda não me desfiz de todas as experiências terrenas”.
“Há quanto tempo resides aqui?”, quer saber Éber.
“Huuummm, deixe-me ver: não sei... aqui, conta-se o tempo?”, questiona Isaltino.
“Percebo que tu tens razão, Isaltino. Tempo não é experiência daqui. Mas, deixemos de lado tais questiúnculas e nos voltemos para arrazoados mais enaltecedores. Como estão os batistas brasileiros no afã da pregação do evangelho genuíno?”, indaga Éber.
“Querido mestre, vivemos tempo de uma salada. Há líderes que anseiam por notoriedade e buscam ocupar todos os espaços possíveis, tanto em nível de igreja como em nível de estrutura denominacional. Sem contar que usam um discurso de igreja relevante, mas que, muitas vezes, fica na teoria. Como se a Igreja de Jesus fosse irrelevante em algum tempo e circunstância”.
Éber coça a cabeça, dá um leve sorriso e pergunta: “Isaltino, meu filho, tu não andas muito exigente?”.
Isaltino desconversa: “Ah, Éber, necessário se faz destacar um trabalho inovador, nunca visto entre os batistas...”.
Interrompe Éber: “Inovador? Por favor, relate-me, pari passu, sem rodeios!”.
“É um trabalho de recuperação de viciados em crack nas famosas cracolândias. Não era de seu tempo, mas uma droga devastadora e, hoje, os batistas estão na dianteira de milhares de jovens, homens e mulheres recuperados, batizados e ganhando almas”, informa Isaltino.
- “Mas, de quem é a brilhante ideia?”, quer saber Éber.
- “Nossa operante Junta de Missões Nacionais, que voltou aos trilhos e ataca problemas espirituais sérios. Uma bênção!”.
- “Glória a Deus!”, celebra Éber.
- “Que isso, Éber, tá muito animado!”.
Éber se recompõe com a elegância que lhe é peculiar, olha para o lado e grita: “Vê, Isaltino, quem está ali!”.
Isaltino não se contém: “Reis Pereira!”. Corre e abraça-o calorosamente por algum tempo.
“Estava conversando com Rubens Lopes”, informa Reis Pereira.
“Onde ele está, quero abraçá-lo?”, quer saber Isaltino.
“Ah, Isaltino, o céu é assim, cada surpresa em todo tempo... deve ter saído para outras atividades”.
Um coral de milhares de africanos chega e entoa lindos hinos ritmados, misturando as personagens. Isaltino dá uma balançada no corpo ao ritmo do hino, mas logo se dirige a uma árvore frondosa e começa a ler seu milésimo livro desde que ali chegou.
Nota: Pr. Éber Vasconcelos foi pastor da Igreja Memorial Batista de Brasília por 30 anos, 1963-1993, era um dos grandes amigos do pr. Isaltino e considerado por este como o Príncipe do Púlpito.