Numa banca de um supermercado, duas
laranjas conversavam fogosamente:
“Não vejo a hora de ser levada daqui para a
casa de uma madame, ser cortada ao meio, triturada, misturada com água, receber
gelo em cima, colada numa jarra bem bonita, ornamentar a mesa de um belo almoço
ou jantar e ser bebida pelas pessoas”, disse uma delas.
A outra retrucou: “Eu, hein, tá maluca, ser
levada pra casa, cortada, triturada, misturada à água, receber gelo e ainda ser
ingerida por gente esnobe, tô fora, quero ficar bem bonitinha assim”.
Uma dona de casa, ao escolher laranjas, sem
perceber deixou uma cair no chão, colocou outras na sacola e levou pra casa,
incluindo a que desejava ser servida num almoço ou jantar. A que caiu no chão
rolou pra debaixo da banca e era exatamente a que não queria ser levada.
Como ficou escondida bem embaixo, ninguém
percebeu e só quinze dias depois com uma faxina geral é que foi descoberta.
Como você imagina que ela estava? Exatamente, podre.
Seu desejo era continuar rosadinha, bonitinha,
mas apodreceu. Quem não deseja ser bênção, servir aos outros, apodrece.
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