quarta-feira, 15 de maio de 2013

Escola Bíblica Dominical - Lição 7 - 19.05.2013


Lição 7 - Lei ou fé, qual a sua escolha?
Texto bíblico: Gálatas 3.1-14


Nesta lição e na próxima, abordaremos os argumentos doutrinários da carta aos Gálatas, os quais exortam contra a atitude de voltar aos ditames da lei de Moisés. Interessa-nos, particularmente, o apelo de Paulo para as evidências da união dos gálatas com Cristo e, também, para a prova escriturística: o exemplo de Abraão.

Legalistas: cegos sagazes guiando cegos ingênuos

Cegos guiando cegos. Assim foi que Jesus descreveu o procedimento ritualista dos fariseus (Mt 15.14). De modo semelhante, os cristãos da Galácia estavam sendo iludidos pelos judaizantes (Gl 3.1b). “Fascinar”, no idioma usado por Paulo, o grego, significa enfeitiçar, encantar e, nesse caso, falar mal da graça salvadora e valorizar as obras.

A submissão espiritual aos ditames da Lei de Moisés representava, ao mesmo tempo, um risco e uma atitude tola (Gl 3.1a). Um risco porque marca a rejeição da liberdade adquirida, por meio da graça de Deus, em Cristo. Uma tolice porque indica um retrocesso o ato de retornar a um jugo de escravidão (Gl 5.1).

O dilema dos cristãos da Galácia continua sendo vivenciado pela igreja? Por quê? Como?

Lei: a espinha dorsal de uma religião impotente

Não há nada de errado ou de ruim na lei de Deus. A lei é espiritual (Rm 7.14a) e o mandamento, santo, justo e bom (Rm 7.12). O problema dessa equação somos nós, pecadores, que fomos desmascarados pela lei (Rm 7.14b). O problema é o efeito destrutivo do pecado em nós, em razão dessa denúncia (Rm 7.11).

Gálatas oferece uma perspectiva muito reservada dessa questão. Mas, para melhor entender os argumentos paulinos, destacaremos o lugar da lei na revelação bíblica.

De acordo com o raciocínio desenvolvido por Paulo, em Gálatas 3, encontramos as proposições seguintes:

● A lei existe por causa do caráter pecaminoso do homem (Gl 3.19). Nesse sentido, todos estão “debaixo da lei” (Gl 4.21a) e, por conseguinte, de sua maldição (Gl 3.10). Na revelação de Deus, o papel da lei é mostrar o pecado, denunciar o pecador, evidenciar a culpa. Desse modo, ao agir como um tutor implacável contra o pecado, a lei o faz abundar (1Co 15.56; Rm 7.9). Escravizados pelo pecado, todos encontram-se impossibilitados de cumprir a lei.

● A promessa, que antecede a lei, visa à fé (Gl 3.17,21). Vindo depois da promessa, a lei não a invalida nem se volta contra ela. Vindo antes da fé, a lei tem caráter temporário e, simplesmente, aponta para a vida a ser concedida pelo Espírito de Deus, quando ocorre a fé (At 26.18; Rm 1.17).

● A lei serviu de aio para conduzir o pecador a Cristo (Gl 3.24). A palavra grega ‘paidagogos’ (aio), que deu origem à palavra ‘pedagogo’ em nosso idioma, era usada para qualificar uma pessoa, geralmente um servo ou escravo, que tinha a responsabilidade de cuidar das crianças da família à qual servia. Entre seus deveres, estavam levar a criança para a escola e zelar por sua segurança. Assim, a lei cumpriu seu papel de ‘guardião’ da humanidade nesse estágio inicial, até o momento em que a fé surgisse no cenário da espiritualidade humana.

A ineficácia e a impotência da lei mosaica diante da maldição do pecado oferecem uma razão coerente para a atitude de Paulo: “eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus” (Gl 2.19). Para ele, viver “debaixo da lei” é o mesmo que “acabar pela carne” (Gl 3.3b), ou seja, viver distante da influência de Deus, seguindo os desejos e instintos naturais pecaminosos despertados pela lei.

Os defensores do legalismo querem convencer crentes novos e inocentes a tomar atitudes altamente prejudiciais, quando não totalmente destituídas de embasamento bíblico. Essa tendência legalista prejudica o progresso espiritual da igreja? Que tipo de ilusão ela oferece?

A proeminência da fé – o caso Abraão

Ilustrar o argumento da fé por meio de Abraão foi um movimento corajoso de Paulo, por várias razões, dentre as quais, destacamos:

1) As principais autoridades religiosas judaicas – e, com certeza, seus adversários na Galácia – insistiam em afirmar ter Abraão por Pai (por exemplo, em João 8.53);
2) Em torno do patriarca Abraão gira a antiga aliança (Gn 17.9);
3) A marca externa que une os adversários de Paulo – e ele próprio – a Abraão é o rito da circuncisão (Gn 17.10), da qual Paulo prescinde em favor da fé (Cl 3.11).
 
Além disso, os inimigos do evangelho – e os crentes que estavam sendo desvirtuados em sua fé – foram surpreendidos por duas afirmações:

Primeiro, a herança da vida foi outorgada mediante a promessa de descendência ao patriarca (Gl 3.18). Na carta aos Romanos, Paulo explica que o cumprimento dessa promessa é Cristo (Gl 3.16; Rm 9.5-7).

Segundo, Abraão é o modelo de fé, a qual é o princípio aprovado por Deus para vivificar o pecador (Gl 3.9). Esse novo sentido de ‘paternidade’ espiritual liga os seres humanos a Abraão pela fé, não pela descendência étnica (racial) (Gl 3.7).

A verdadeira descendência do povo de Deus é aquela que crê. A fé que tem por objeto de confiança Jesus Cristo é o elemento unificador nessa relação espiritual.

Em Gálatas 4, Paulo desenvolve seus argumentos na alegoria das esposas de Abraão – Agar e Sara – e de seus filhos – Ismael e Isaque – os quais simbolizam as duas alianças (Gl 4.22-31).

A alegoria é um recurso literário típico do pensamento greco-romano. Alegorizar é o mesmo que dar um sentido espiritual ao texto literal. Segundo afirma Paulo, “por alegoria” é que se entende o sentido que subjaz à superfície da história da descendência de Abraão.

Na alegoria paulina, a escrava Agar e seu filho Ismael representam a lei. A livre Sara e seu filho Isaque, por sua vez, representam todos os que herdaram a salvação pela graça e favor divinos. Assim, o abandono da lei é imprescindível, pois a instauração do novo pacto destitui o antigo (Hb 8.6-10).

Somos “filhos da promessa” de Deus a Abraão. O que isso significa?

O apelo à experiência pessoal da fé
Nossa experiência de salvação em nada difere da que os gálatas vivenciaram, conforme as observações seguintes:
● a partir da fé na mensagem do evangelho, fomos vivificados pelo Espírito (Gl 3.2); assim, Deus satisfez suas próprias exigências santas e voltou contra si mesmo a ira justa que o pecador enfrenta: “Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus... pela fé em Jesus Cristo para todos os que creem...” (Rm 3.21,22a).
● a operação do Espírito de Deus em nós – principalmente, o milagre da salvação – é a irrefutável evidência de que fomos justificados por Deus (Gl 3.5).

O resultado da fé em Cristo é “o resgate da maldição da lei” (Gl 3.13). Cristo assumiu o lugar do pecador na cruz do Calvário. Tornou-se, ele mesmo, maldição em lugar de todos (Gl 3.13). O sentido claro dessa e de outras passagens que falam do “resgate” da cruz (1Co 6.20; 7.23; 1Tm 2.6) é que a morte de Cristo foi o preço para livrar o homem da penalidade do pecado.

A lei cumpriu seu propósito: “depois que vem a fé, já não estamos debaixo do aio” (3.25). A humanidade amadureceu. Está preparada para a colheita. Imaginemos, por um momento, uma plantação de café. Ela é cuidada com todo o carinho para que, no tempo próprio, o lavrador possa realizar a colheita de seu plantio. A essa imagem podemos associar a transição da lei para a fé.

Cristo Jesus cumpriu a lei e inaugurou uma nova ordem: a era da fé. Como ocorre a vida cristã, nesse novo ambiente?


Conselhos  úteis
O desafio de viver neste mundo como seguidor de Jesus não é fácil. Mas, se nos mantivermos vigilantes diante dos desafios que estão à nossa volta, poderemos resistir e amadurecer nessa carreira ou missão.

A maior lição de maturidade que um cristão pode oferecer é não “tornar aos rudimentos fracos e pobres” do legalismo (Gl 4.9) por três razões básicas: (1) uma concepção legalista da vida é religiosidade artificial; (2) denota um comportamento obsessivo-compulsivo que se alimenta da atitude de julgar; (3) além disso, cria uma falsa hierarquização espiritual, colocando os cristãos em desigualdade.

O jeito mais saudável de viver é colocar em Deus todas as nossas esperanças. Assim é que a fé opera, sem tentativas desesperadas de alcançar a justificação por méritos pessoais. A vida do Espírito em nós prima pela consciência – discernimento espiritual – e pela responsabilidade pessoal de cada crente, consigo e com os demais, seus iguais.

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