Lição 8 – Reflexos da cruz
Texto bíblico: Gálatas 2.19,20; 3.1,13; 5.11; 6.12-14
Paulo tornou a cruz o centro de sua mensagem. Na mais pujante declaração da epístola aos Gálatas – “estou crucificado com Cristo” –, Paulo diz como e onde ele morreu para o mundo, para o pecado e para a lei: unido a Cristo, pela fé, na cruz. Assim, o apóstolo definiu que o viver cristão, por meio da fé, é o caminho da cruz.
Você já parou para refletir sobre a relevância do ato de tomar a cruz de Cristo e segui-lo (Mt 10.38)? Nesta lição, focalizaremos os reflexos dessa decisão, aplicando-os à nova realidade diante da qual se encontra cada discípulo de Cristo.
A relevância da cruz
É acertada a afirmação de que o pecado desvirtuou, desorientou e separou o homem de seu Criador. Na cruz, entretanto, Deus está chamando-nos de volta. Pela eficácia da cruz, podemos ter “ousadia... pelo sangue de Jesus, pelo caminho novo e vivo que ele nos inaugurou...” (Hb 10.19a, 20a).
Símbolos importantes são evocados quando pensamos na cruz. Nem todos são verdadeiros. Para os judeus, a cruz era escândalo, vergonha, humilhação. Para os místicos, um amuleto. Para a moda, um acessório que se tornou uma tendência internacional. Esses sentidos errôneos de nada servirão ao propósito cristão.
Somente o verdadeiro sentido para a cruz interessa ao cristão. Esse significado pode ser encontrado na carta aos Gálatas, que temos procurado interpretar neste comentário.
Respondendo com apenas uma palavra: o que vem à sua mente, ao pensar na imagem da cruz?
Podemos identificar, entre outras realidades relevantes, quatro sentidos para a cruz de Cristo, que passamos a considerar:
1) Motivo de glória e não de humilhação
“... longe esteja de mim, gloriar-me, a não ser na cruz...” (Gl 6.14). A frase de Paulo evidencia a cruz como o único motivo de glória para o cristão. Segundo esse ensinamento, não há nenhuma ação que possa resultar na salvação do crente, senão aquela em que Deus “deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
O episódio designado “as águas de Meribá” (Nm 20.2-13) ilustra bem essa verdade. Nessa passagem, Moisés, diante de um povo sedento, ousou levar sobre si a capacidade de livrá-los de sua sede. Moisés tinha amplo conhecimento da região e de suas escassas fontes naturais de água. Na ocasião, ele omitiu que a ação de ferir a rocha e encontrar água teria sido orientada por Deus. Excluiu o verdadeiro autor do milagre. Foi duramente repreendido por Deus, que não permitiu que aquele importante líder entrasse na terra prometida com o povo (Nm 20.12). Moisés pecou ao colocar-se no lugar de Deus.
Em relação à cruz, esse mesmo princípio ocorre. Quando o cristão busca justificar sua condição de salvo por seus próprios méritos, acaba por colocar-se no lugar de Cristo. Assim, desmerece o ato de Jesus ao assumir o lugar do pecador, na cruz.
Enquanto os adversários judaizantes ostentavam uma posição espiritual “superior” pela circuncisão e pela guarda da lei, induzindo os gálatas ao erro, Paulo prefere dizer que a verdadeira cruz é aquela em que Jesus triunfou, num ato de graça.
Converse com os demais alunos sobre relações simbólicas entre as ações descritas nos Evangelhos em relação à cruz e às nossas atitudes, hoje:
a) cristãos que carregam a cruz de Cristo como uma obrigação, como fez Simão (Mt 27.32);
b) cristãos que, escondidos na multidão, escarnecem da cruz de Cristo, como o fizeram soldados e religiosos de seu tempo (Mc 15.30-32);
c) cristãos que, decididos a seguir o Mestre, tomam a sua cruz, confiantemente (Lc 9.23).
2) O esvaziamento do impacto do pecado
O ato de o pecado impelir o cristão à destruição é esvaziado na cruz pelos méritos de Cristo e pela instrumentalidade da salvação oferecida. Em razão disso, podemos não apenas enfrentar o pecado interior, mas vencê-lo!
Essa vitória se constrói na declaração de que “o mundo está crucificado para nós” (Gl 6.14). O aspecto verbal usado aqui é importante. Corresponde a uma ação completa, aperfeiçoada, encarada como concluída, mas cujos efeitos permanecem. Assim, na aceitação de Jesus como Mediador entre Deus e o homem e, também, como Salvador e Senhor, pode-se dar as costas para o mundo, pois este não tem mais o mesmo apelo sedutor.
Paulo chega a afirmar, em Romanos, que o nosso velho homem foi crucificado com Cristo “a fim de que não sirvamos ao pecado” (Rm 6.6a). Assim, na cruz, a natureza pecaminosa não reina mais absoluta. Agora, ela tem como adversário o imbatível Espírito Santo. Por intermédio dele, pode-se “aguardar a esperança da justiça que provém da fé” (Gl 5.5).
Que evidências podem ser evocadas para afirmar o esvaziamento do impacto do pecado na vida do cristão?
3) A ruptura consciente contra o pecado
Na cruz de Cristo também está simbolizado o rompimento consciente do pecador com o pecado. É o que Paulo afirma com uma forte declaração: “Os que são de Cristo Jesus, crucificaram a carne com as paixões e concupiscências” (Gl 5.24). A ação descrita, “crucificaram”, aponta para a decisão tomada de deixar o pecado (arrependimento), pelo abandono consciente do estilo de vida pecaminoso.
O que precisamos abandonar? As obras da carne, sob dois aspectos: primeiro, aquelas que estão relacionadas com a impureza interior: “prostituição”, “impureza”, “lascívia” (Gl 5.19), idolatria e feitiçaria (Gl 5.20a). Depois, as que se relacionam ao comportamento social pecaminoso: “inimizades”, “contendas”, “ciúmes”, “iras”, “facções”, “dissensões”, “partidos”, “invejas”, “bebedices” e “orgias” (Gl 5.20b,21).
Essas palavras empregadas por Paulo em Gálatas não têm a pretensão de resumir a ação pecaminosa. São, antes, expressões do comportamento carnal num contexto particular – ocorrências da comunidade cristã na Galácia. Mas, com certeza, vemos muito dessas atitudes em nosso viver diário...
Caso o cristão se deixe vencer pelo desejo interior pecaminoso, essas manifestações carnais ocorrerão com frequência destrutiva. Assim, o desejo de morrer para o pecado deve ser diretamente proporcional à fé que este diz ter em Jesus. Ele é “âncora da alma, segura e firme” (Hb 6.19). Esperar em Cristo é o nosso dever. Uma fé vivida com tamanha realidade leva o cristão ao comprometimento cada vez maior com Cristo.
Dê exemplos da atitude de renúncia completa da velha vida pelo cristão.
4) A morte como um princípio de vida
Tal qual um tanque de guerra atravessando as linhas inimigas, imponente, o pecado tem trazido muita desolação e tristeza. Felizmente, a cruz de Cristo pôs fim a essa epopeia.
Na cruz, anuncia-se a mensagem paradoxal de que a morte é, na verdade, um princípio de vida. Lá, Cristo, o sacerdote perfeito, morreu como o sacrifício perfeito, para nos conceder a vida eterna, pois a cruz não conseguiu detê-lo (Hb 12.2).
A cruz anuncia a morte do cristão para o mundo e também a morte da influência destruidora do pecado. A morte do “ego” humano significa que o nosso querer, sempre contrário a Deus, infiel e decepcionante, submete-se ao Redentor, que vive em nós e nos dá vida (Gl 2.20).
Que decisões de nossa vida íntima e pessoal apontam para a morte do “eu” e para a simbólica “crucificação com Cristo”?
Conselhos úteis
A cruz tornou-se um dos mais impactantes símbolos da história da humanidade. Para muitos, ela é um simples artefato ou amuleto. Para nós, entretanto, representa um estilo de vida.
Enfeites em forma de cruz ou crucifixo nada mais são do que modismo estético com motivos religiosos. O que precisamos mesmo é nos deixar crucificar! Desse modo, assumimos o morrer diário com Cristo (Rm 6.8,10).
Pela glória da cruz podemos nos achegar a Deus “com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência...” (Hb 10.22).
E então? Temos experimentado a cruz de Cristo como um processo de vitória contra o pecado, a morte e o mal? Pois isso é o que Deus espera de cada cristão: que estejam “crucificados com Cristo” para a glória de Deus.
Autor das Lições:
Pr. Davi Freitas de Carvalho, formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, RJ, é o atual pastor da Igreja Batista em Vila Jaguaribe, Piabetá, Magé, RJ e é o Coordenador de
Educação da Associação Batista Mageense.
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