quinta-feira, 30 de maio de 2013

Escola Bíblica Dominical - Lição 9 - 02.06.2013

Lição 9 - Solidariedade na Igreja
Texto bíblico: Gálatas 4.8-20
Texto áureo: Gálatas 6.2

A palavra de ordem nesta seção da carta aos Gálatas é solidariedade. 

Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, em conferência na USP, ao definir esse vocábulo, aproximou-o do conceito de caridade: “Solidariedade é presença e militância da igreja naquilo que tem que ver com a dignidade humana, com os direitos humanos, com a liberdade, com a exclusão. E é aí onde vivemos nossa fé cristã”. 

Entretanto, para a igreja cristã, a ênfase desse nobre sentimento não subjaz ao gesto caridoso que o expressa, simplesmente. O revestimento do amor de Deus, em nós, impulsiona o relacionamento solidário, que é gerador da responsabilidade mútua entre pessoas unidas por um único interesse: Cristo.

O caso Paulo: um enfermo recebendo a solidariedade da igreja 

Na carta aos Gálatas, Paulo foi objeto da ação solidária da igreja. Estavam unidos pelo evangelho. Pregador e ouvintes, ambos praticantes. A partir da análise desse comportamento, procuraremos encontrar formas semelhantes de agir em relação aos demais irmãos e de demonstrar a unidade cristã.

Na única vez que o apóstolo fala de doença ou enfermidade física em Gálatas,
fala de si mesmo: “por causa de uma enfermidade da carne vos anunciei o evangelho” (Gl 4.13). 

Uma incapacidade física (a palavra também traduz fraqueza ou doença) impediu-o de continuar viagem e permitiu-lhe ficar entre os gálatas e pregar-lhes o evangelho. Mesmo a enfermidade pode ser motivo de ação de graças!

Ninguém sabe ao certo qual era a doença de Paulo. Quase todos os estudiosos concordam que era uma doença oftalmológica, pois condiz com a afirmação em Gálatas 4.15: “se possível fora, teríeis arrancado os vossos olhos, e mos teríeis dado”.

A experiência de conversão de Paulo na estrada de Damasco também corrobora para este fato (At 9). Depois do encontro de Paulo (à época, Saulo) com Cristo, em que um clarão de luz o deixou temporariamente cego, escamas ou crostas cobriram os olhos do apóstolo (At 9.18). Teriam ficado sequelas? Muito provavelmente.

Zelo e cuidado: lições solidárias da igreja
Os gálatas demonstraram um zelo e um cuidado muito especial pelo apóstolo nos momentos em que sua enfermidade manifestou-se ali. Dessa atitude, podemos extrair duas verdades básicas da ação solidária: 

a) Não se deixar afetar pelo preconceito. 

Os gálatas receberam o apóstolo e sua mensagem como se tivessem recebido um anjo do céu ou o próprio Cristo (Gl 4.14). Isso é relevante, principalmente, diante de uma cultura espiritual predominante em nossos dias, que entende haver uma conexão moral com a condição física. Nessa incoerente perspectiva, a enfermidade seria uma consequência do pecado. 

Contrária à essa ideia, a experiência de Jó corrobora a tese de que nem sempre uma enfermidade está relacionada à atitude pecaminosa. Outro exemplo é suscitado pela pergunta dos discípulos a Jesus, quando viram um cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9.2). A resposta de Jesus – “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.3) – mostra que o problema não é descobrir a origem da enfermidade, mas enfrentá-la com as armas espirituais.   

Você consegue identificar formas discriminatórias contra irmãos que passam por momentos de provação física na igreja? Quais?

b) Demonstrar felicidade e satisfação interior com a presença dos enfermos na igreja. 

Soa inspiradora a atitude da igreja na Galácia, em relação à presença do apóstolo Paulo entre eles. Paulo não lhes era um “peso”, apesar de sua enfermidade. 

Aplicando à vida, como trataríamos irmãos afetados com o vírus HIV, se o soubéssemos? Como tratamos os idosos, que são as pessoas mais propensas a enfermidades? Esses e tantos outros casos que não citamos aqui, por falta de espaço, merecem ser tratados com o mesmo respeito que damos a todos os demais. Infelizmente, algumas comunidades religiosas deixam de lado os enfermos, principalmente.

De que modo podemos zelar pela saúde das pessoas com que convivemos? 
Que expressões de solidariedade podem ser realizadas por nós para dignificar a vida dos enfermos da igreja?

Princípios essenciais da ação solidária

Os princípios essenciais que orientam essa dimensão da vida cristã são o primado da pessoa humana e a mutualidade. 

1) Assim, respeitar a pessoa humana é reverenciar a Deus, pois fomos criados à imagem e semelhança dele. 

Entre as atitudes bíblicas que demonstram esse respeito, encontramos os seguintes imperativos :

● o serviço ao próximo (Gl 5.13b). 

No famoso episódio do lava-pés, Jesus ensinou os seus discípulos a serem servos uns dos outros. Essa é a característica dos que obedecem aos seus ensinos (Mc 10.44). 

O mesmo vale para nós, também. O serviço cristão precisa acontecer porque nem todos somos fortes de espírito ou animados. Velhos hábitos que tínhamos antes de nossa conversão nos acompanharão para sempre. Alguns trazem traumas da infância, outros ainda sofrem com suas perdas, outros com o luto, etc. A verdade é que todos precisamos de ajuda. O serviço cristão é o meio divino de ajudar nossos irmãos. 

● a tolerância paciente em relação aos erros cometidos contra nós (Ef 4.2; Cl 3.13a). Essa lembrança exige humildade e mansidão, mas, principalmente, o reconhecimento de que poderíamos estar do outro lado, o do ofensor. Como gostaríamos de ser tratados, então? 

● a inclusão social, principalmente, no culto.

Em relação aos idosos, isso significa, entre outras inúmeras possibilidades, as ações seguintes:
● permitir-lhes atuar mais, agindo sem preconceitos estéticos. Isso é democratizar o culto e honrar a Palavra de Deus.
● respeitar o ritmo diferente dos idosos, não resmungando quando o culto tiver seu ritmo diminuído;
● não forçar os idosos a terem comportamentos joviais; 

Em relação aos enfermos, isso implica as ações seguintes:

● produzir material para aqueles que não podem mais cultuar no templo, por exemplo: uma fita de vídeo do culto dominical, um informativo das atividades, que seria entregue numa visita social, etc.
● Deveríamos dar-lhes mais atenção. Visitas sociais, conduzidas com espírito cristão e devoção são essenciais à recuperação do enfermo, pois a fé é um fator vital para ele.

2) O caráter comum do cuidado e da comunhão que move os relacionamentos cristãos – a mutualidade – diferencia o cristão do mundo ao seu redor. 

Paulo nos ensina isto, ao afirmar: “Levai as cargas uns dos outros” (Gl 6.2). 

Para comprovar esse fato, basta ouvir (entendendo o que se diz) os cantores de Pop Rock. Dizem em suas canções “I don’t care!” (Eu não ligo!),  They don’t care” (Eles não se importam!), “Nobody cares” (ninguém tá nem aí!). Mensagens com esse teor mostram que persiste no mundo uma ausência de mutualidade. É a total desesperança, o sentimento de  isolamento, de não ter alguém em quem confiar ou com quem contar... 

Cristo mudou essa realidade em nossa vida, pois ele se importou conosco. Ele o fez até a morte, e morte de cruz! Ele deseja que nos importemos com os demais, também. Paulo transcreve essas ideias em suas cartas. Aos Romanos, disse: “Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos...” (Rm 15.1). Aos Tessalonicenses, disse: “... que consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes com todos” (1Ts 5.14). 

Que seria da igreja sem a mutualidade, sem o cuidado mútuo? 

Num sentido prático da esfera da ação social e no cuidado mútuo, em que o exemplo de Paulo pode nos ajudar? Como ser solidários num mundo voltado para o individualismo e o egoísmo? 

Conselhos úteis

O fator que nos une e nos faz solidários é Cristo. Por isso, Paulo faz o apelo aos cristãos da Galácia para que neles “Cristo seja formado” (Gl 4.19). Desse modo, os laços de solidariedade são solidificados pela unidade do Espírito.

Não percamos tempo. Procuremos por outros que estão necessitando de ajuda, de um abraço amigo, de um conselho, de um telefonema, de um simples “Eu me importo!”. É o que Paulo quis dizer com a expressão “façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10).

Que tal estreitar relações com os irmãos enfermos? É algo fácil em nossos dias: um telefonema, um bilhete, uma visita rápida, uma oração a Deus pelo seu bem-estar, tudo isso traz muita alegria a quem passa por dificuldades físicas.

Autor das Lições:
Pr. Davi Freitas de Carvalho, formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, RJ, é o atual pastor da Igreja Batista em Vila Jaguaribe, Piabetá, Magé, RJ e é o Coordenador de Educação da Associação Batista Mageense.

Um comentário:

  1. Mensagem inspiradora e edificante para os nossos corações. Que sejamos assim, solidários uns com os outros pelo amor de Cristo.

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