segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

FRED, RENATO GAÚCHO OS ATLETAS DE CRISTO E A NOVA VIDA


PR. JOSUÉ EBENÉZER*

O depoimento do técnico do Fluminense, Renato Gaúcho, sobre a possível conversão ao evangelicalismo do atacante do Fluminense e da Seleção Brasileira Fred (estaria frequentando uma igreja evangélica da Zona Sul do Rio de Janeiro, conforme noticiado pelo site “Ego”), põe em cheque esta leva de atletas convertidos sob a bandeira evangélica nos últimos anos.

Ressalte-se que não tenho nada contra a organização Atletas de Cristo (onde tenho vários amigos), uma organização que não precisa provar nada para ninguém, pois tem uma história linda, com uma liderança séria, que ao longo das décadas tem mostrado seu valor no atendimento, acompanhamento, evangelização e comunhão entre atletas de vários esportes neste Brasil de Deus.

Gente como o ex-piloto de Fórmula 1 Alex Dias Ribeiro, o ex-goleiro do Atlético Mineiro João Leite e muitos outros atestam o valor dessa organização e o belo trabalho que faz no meio esportivo, mormente no meio futebolístico, de maior evidência em solo pátrio.

Mas, vamos ao que disse Renato Gaúcho, por conta de uma possível conversão de Fred: “Fred, frequentando a Igreja? Sou padre e não estou sabendo. Essa é nova. Mas cada um faz o que quer. Tem atleta de Cristo, e tenho o maior respeito por eles, que fazem o que eu faço. Então, sou atleta de Cristo. O que eu faço, eles fazem. São atletas de Cristo, e eu não sou?” (O Globo, Esportes, Sábado, 22.2.2014, p. 43).

A forma jocosa com que Renato Gaúcho tratou a suposta conversão de Fred revela, obviamente, o espírito livre, debochado, mulherengo, que sempre marcou a carreira desse cidadão, que, como atleta, notabilizou-se por suas atividades extracampo, mas, especialmente pelo famigerado gol de barriga a ele atribuído em favor do Fluminense, contra o seu arquirrival Flamengo, que assegurou um título de campeão Carioca.

Então, de Renato Gaúcho, com relação aos evangélicos e seu estilo de vida, não se poderia esperar outra coisa, senão, ironia e sarcasmo. O que intriga, entretanto, é o fato de ele afirmar: “Tem atleta de Cristo, e tenho o maior respeito por eles, que fazem o que eu faço” (sic). O atual técnico do Fluminense está fazendo uma observação fruto de sua constatação e da experiência própria, se denunciando. Até que ponto essa observação in loco do comportamento dos chamados “atletas de Cristo”, revelando um caráter diverso do pretendido para alguém que se diz nova criatura, compromete a organização e, depõe, contra a presença evangélico-cristã no país?

Por óbvio, devemos considerar que Renato Gaúcho não é nenhum expert em questões evangélicas. Muito menos, como funciona a organização Atletas de Cristo, que tem por estratégia convidar para seus encontros e reuniões, todos os jogadores do elenco, onde um atleta de Cristo se propõe a cumprir sua missão cristã. Assim sendo, nem todo frequentador de cultos e reuniões dos Atletas de Cristo é cristão, batizado e com uma congregação definida para se filiar. Alguns são neoconversos – no dizer dos apóstolos Paulo e Pedro, ainda totalmente dependentes do leite espiritual (1Co 3.1-3; 14.20; 1Pe 2.2), quando muito simpatizantes e agregados que recebem a influência daqueles que têm, de fato uma experiência com Deus.

Assim sendo, para qualquer questionamento a partir da afirmação doidivanas do Portalupii, é preciso definir, antes, a que tipo de atleta ele se refere: ao atleta de Cristo de fato? (ele tem consciência de que o cara é membro de alguma Igreja) ou a um simpatizante que tão somente frequenta as reuniões?

Como para tirar esta dúvida seria necessária uma entrevista com o próprio (algo impossível nesta manhã de sábado), reflitamos sobre o que esta fala de Renato Gaúcho nos leva a pensar sobre a questão da nova vida em Cristo neste início de Século XXI no Brasil e no mundo:

1º) A doutrina da nova vida em Cristo, conforme definida pelo próprio em conversação com o líder judaico Nicodemos (Jo 3), está desprestigiada em nossos dias. O que ocorre hoje é mais adesão do que conversão. Adere-se ao cristianismo como se passa a torcer por um time de futebol. As conversões de midiáticos como Monique Evans, Baby do Brasil, Marcelinho Carioca dentre outros, nem sempre representaram valor para o cristianismo. A exceção a esse “Íbis Gospel” é o craque Kaká do Milan.

2º) Em meio à essa sociedade infiel – há traição no casamento; na fidelidade para com a denominação religiosa, para com a igreja local, na empresa; entre amigos, parentes e vizinhos; infidelidade na política, na escola; entre sócios – em meio a tudo isso, surpreende-nos saber que o último reduto de fidelidade no mundo é no âmbito do futebol. Qual foi a última vez que você soube de alguém que trocou de clube? Diga aí, acerta do último vascaíno que passou a torcer pelo Flamengo? Sabe de algum? Muito difícil! Quão diferente seria o mundo se todos os seres humanos tivessem uma fidelidade clubística ou futebolística para com a família, Deus e a Igreja como se tem para com o time do coração.

3º) Percebe-se, na abordagem do técnico, que ele tem uma base referencial do que seja ser crente, como se dizia antigamente. Referindo-se ao Fred, e incrédulo com a conversão dele, diz: “Sou padre e não estou sabendo”, como quem diz: se isto é ser crente, até religioso sou mesmo com todo o meu comportamento errático. Quem ensinou ao Renato Gaúcho que dos cristãos se espera um comportamento diferenciado? Nós mesmos! Nós ensinamos ao mundo como eles devem nos ver. Ensinamos que crente não bebe, não fuma, não se prostitui, não participa de jogos de azar e não está envolvido com festas ditas mundanas e carnais. Assim o mundo nos vê porque assim nós ensinamos o mundo a nos ver. E, quando erramos, o mundo nos cobra. A falta de ética é gritante no mundo contemporâneo. E a gente crente não está isenta disso. Dessa forma nos colocamos à mercê da repreensão dos incréus.

4º) O que Renato Gaúcho questiona é a não mudança de vida que ele percebe nas pessoas que se dizem evangélicas em nossos dias. “Tem atleta de Cristo, (....) que fazem o que eu faço” (sic). Ele não consegue enxergar diferença entre ele e os ditos “atletas de Cristo”. Não vou entrar no mérito do preconceito ou da construção de estereótipos que permeou a fala do técnico do Fluminense. Quero só aproveitar a deixa para constatar que, de fato, em nossos dias hodiernos, falta muito de transformação interior, que transborde para o exterior, daquela vida abundante preconizada pelo Mestre (Jo 10.10). Isso é compromisso da Igreja de Cristo. Precisamos mostrar qualidade de caráter para ganhar o mundo para Cristo.

5º) O grande boom experimentado pela chamada “igreja evangélica brasileira” desde a década de 80 do Século XX (e devidamente constatado e comprovado pelo IBGE), não representou ganho real de qualidade de vida cristã no Brasil. Pior. Ampliou-se o fosso de podridão que fede a céu aberto neste país sem moralidade: corrupção, indecência de comportamento, sexualidade transviada, crimes, violência e roubalheira. Onde está a diferença que os cristãos precisam exercer neste mundo sem Deus?

Para concluir, é preciso refletir sobre o que anda ocorrendo no meio dito gospel neste país. Suspeito que o mundo gospel não tenha nada a ver com o verdadeiro cristianismo. É uma licenciosidade gritante, sob discursos popularescos para lotar templos, povoando a terra de seguidores de artistas e despovoando os céus de verdadeiros cristãos. Vamos orar!

*Pastor da Igreja Batista do Prado em Nova Friburgo.

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