sábado, 11 de abril de 2015

Deus se arrepende? - Lição da Escola Bíblica Dominical

Texto que será estudado nas classes da Escola Bíblica Dominical no dia 12 de abril de 2015 nas Igrejas Batistas da Convenção Batista Fluminense.

Pr. Dr. Vanderlei Batista Marins*

Texto Bíblico: Gênesis 6.6; Números 23.19

Introdução: 
A expressão “arrependeu-se o Senhor” não cai bem aos nossos ouvidos, pois traz-nos a ideia de limitação, de equívoco, de falta de conhecimento pleno, de mudança de direção, de caráter ou de propósitos inerentes a um ato não recomendável. Obviamente que ela não surge da tristeza do Senhor por más ações praticadas, pois Ele é soberano, santo (Is 6.1-3), presciente (Gn 15.13); onisciente (Jo 21.15-17; Rm 11.33) e não é o homem (1Sm 15.29). Deus não muda em essência, muda atitude e métodos, de acordo com o relacionamento do homem com Ele. Quando o homem se distancia e desobedece, a relação de comunhão fica alterada para uma relação de correção (Jr 6.8) ou de repreensão (Jó 5.17), mas promovendo felicidade pelo acerto.
Sabemos que a Bíblia é a Palavra de Deus em linguagem humana, portanto, há de se levar em consideração que os escritores sagrados tenham colocado em termos humanos os ideais divinos. Por essa razão, encontramos na Bíblia várias passagens em que são atribuídos sentimentos e formas humanas a Deus. Esse recurso auxiliou as pessoas ao longo da história, mas em determinados momentos tem provocado certa confusão na cabeça de alguns, que, por falta de um conhecimento mais amplo da Bíblia ou da Teologia, tentam explicar Deus a partir de si mesmas e de suas conclusões.
Deus não é um Deus de confusão (1Co 14.33), mas de esclarecimento; e podemos provar isso por meio de sua Palavra.

I - Explicando a Palavra pela própria Palavra
A regra básica da hermenêutica é que a Bíblia interpreta a própria Bíblia, ou seja, ela se explica, não sendo apropriado utilizar-se dela para justificar pensamentos ou conjecturas; estes é que precisam ser submetidos ao crivo da Palavra.
Em Gênesis 6.6 encontramos: “Então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração”. Essa é a primeira vez que o verbo “arrepender” aparece na Bíblia, a partir daqui nos deparamos com outras referências, dentre elas: Êx 32.14; Jr 18.7,8; 26.3,13,19; Jn 3.10. Originalmente, ela parece refletir a ideia de “respirar profundamente” e, por conseguinte, a manifestação física dos sentimentos da pessoa, geralmente tristeza, compaixão ou pena. Percebem como são atitudes comuns a nós, seres humanos? Assim, fazendo e sentindo, podemos compreender um pouco daquilo que se passa no “coração” de Deus, quando observa o que os seus filhos estão fazendo, como estão agindo.
Todas as vezes que atribuímos formas humanas a Deus, como por exemplo: a mão de Deus, o coração de Deus, os pés de Deus, estamos empregando um antropomorfismo. Nos textos citados acima, encontramos exemplos de antropopatismo, quando atribuímos um sentimento humano a Deus. Em qualquer idioma a construção linguística carece de alcance ou significado para explicar os sentimentos de Deus; diante dessa ausência, o homem não tem outra opção, senão atribuir-Lhe os seus próprios sentimentos.
Em Gênesis 6, Deus determina o dilúvio como um ato de julgamento, mas não se gloria nessa ação, antes, sofre profundamente. Podemos, então, entender que o julgamento pelo pecado é inevitável, mas a fidelidade de Deus aos homens sempre será inalterada e irretocável, conforme o exemplo de Noé (Gn 7.1).

II – Não confundir o arrependimento de Deus com o arrependimento humano
         No Antigo Testamento encontramos duas palavras utilizadas para expressar arrependimento. A palavra “arrepender-se”, do hebraico “naham”, na maioria das vezes, refere-se à compaixão de Deus, quase sempre, mostrando a atitude divina. Descreve de modo antropopático (atribuição de sentimentos humanos a Deus) a mudança do tratamento divino para com o homem, como se a mudança se operasse em Deus (Gn 6.6; 1Sm 15.29; Jn 3.4-10; 1Cr 21.15; Am 7.3).
O que vemos nas passagens bíblicas, que parecem atribuir mudança em Deus, são recursos divinos para ilustrar os variados métodos utilizados por Ele em sua soberania; bem como representações antropopáticas da imutabilidade de Deus nas muitas e variáveis condições morais humanas. Por exemplo, Deus não trata o ímpio e o justo da mesma forma. A imutável santidade divina não permite tal coisa. O mesmo ocorre quando o justo se torna ou age como o ímpio. O tratamento de Deus para com ele também deve mudar, pois precisará ser corretivo, exortativo. Deus abranda ou muda Sua maneira de lidar com as pessoas, de acordo com Seus propósitos soberanos, mas não muda na Sua essência, Ele não é inconstante. O ser humano, sim, muda de uma condição para outra, muda de melhor para pior e vice-versa; está em constante mudança. Devemos, então, interpretar Gênesis 6.6 à luz de Números 23.19.
Na maioria dos textos bíblicos que se refere ao arrependimento dos seres humanos, encontramos outra palavra, “Shûb”, do hebraico “voltar-se, retornar” (Is 55.7). Nesse sentido, esse verbo aparece inúmeras vezes, demonstrando claramente a responsabilidade humana no processo de arrependimento (Jr 4.14; Is 24. 23).
No arrependimento humano encontramos mudança na essência. Há uma mudança moral; uma decisão consciente de voltar-se para Deus e desviar-se do mal (Ez 14.6; Is 6.6).

III - Não confundir arrependimento com remorso
Arrepender-se, no bom sentido, é do homem, pois ele pode, enquanto há tempo, voltar-se para Deus, abandonar os seus maus caminhos (2Rs 17.13), redirecionar a sua vida; mudar na essência. O arrependimento é algo saudável, já o remorso... “é o passado que continua”. Não há mudança, mas pavor, incômodo e tristeza. Foi o caso de Judas (Mt 27.3-5), quando percebeu que o Sinédrio havia condenado Jesus. Ele não mudou de ideia (arrependimento), mas lamentou as consequências de sua atitude, traindo Aquele que o amou, chamou-o para o ofício apostólico e com quem conviveu um período da vida. Ele procurou os líderes religiosos que pagaram pelos seus serviços de deslealdade ao Mestre e amigo (Mt 26.49,50), para devolver o dinheiro, confessando que havia traído sangue inocente, mas eles responderam que não tinham nada com a situação, era um problema dele. Então jogou as 30 moedas, fruto de seu trabalho repugnante e ilícito, no santuário e foi enforcar-se.
  Pela Palavra, aprendemos que o arrependimento, dádiva do Senhor (At 5.31), nos leva ao conhecimento e à prática da verdade (2Co 7.10).
Em Jesus, somos convidados a deixar as coisas da velha vida para trás e vivermos uma nova vida (2Co 5.16,17). Por mais terrível que seja o erro cometido, há perdão para ele (Is 1.18). O pecado não é uma mancha inapagável, pois, mediante a conversão, que é graça concedida por Deus, todos que o recebem podem redirecionar suas vidas; e isso vai além da contrição e da tristeza. O amor de Deus se adapta a cada modo, variante ou condição de Seus filhos, na direção dos passos deles.

Para pensar e agir
Deus é perfeito e imutável em Seus pensamentos e propósitos (Tg 1.17), mas muda de procedimentos e atitudes mediante alteração no relacionamento do homem com Ele. Como está o seu relacionamento com Deus?
Deus não é homem para se arrepender (1Sm 15.29 ), mas deve o ser humano arrepender-se sempre que for necessário. Isso é louvável, agradável, é do homem.
A atitude do Senhor para com o homem leva em conta a forma como este reage à Sua Palavra e vontade. Quem é livre para escolher, precisa ser responsável para assumir as consequências dessas escolhas e atos.
Que haja em nosso coração, sempre que for necessário, o arrependimento. E que não haja em nós e nas nossas relações o remorso – um passado que continua.


Leitura diária:
Segunda-feira: Malaquias 3.1-12
Terça-feira: Daniel 5.1-31
Quarta-feira: Hebreus 12.4-13
Quinta-feira: Salmos 39.11-13
Sexta-feira: Provérbios 3.5-12
Sábado: Jonas 3.3-10
Domingo: Apocalipse 2.5;3.19

* Quem escreveu:
Vanderlei Batista Marins é natural de São João da Barra, hoje, São Francisco do Itabapoana – RJ. É pastor titular da Primeira Igreja Batista em Alcântara desde 05/05/2001. Doutor em Teologia, pela Cohen University & Theological Seminary (Califórnia – EUA), onde também obteve o grau de Mestre em Divindade. É Mestre e Bacharel em Teologia, pelo Seminário Teológico Batista Fluminense e Bacharel em Ciências Jurídicas, pela Universidade Salgado de Oliveira. É licenciado em Filosofia e Pós-Graduado em Docência do Ensino Superior, pela Faculdade Phênix de Ciências Humanas e Sociais do Brasil. Autor de Excelência no Ministério Pastoral (Niterói, editora Epígrafe, 2009) e do Capítulo 17 – Família – Comentários à Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira. É presidente da Convenção Batista Brasileira e da Convenção Batista Fluminense, professor de Teologia e Diretor do Seminário Teológico Batista Gonçalense.
Casado com a Professora Rita de Cassia Miranda Marins, pai de Mikhael Wander, de Eber Jonathas, casado com Larissa e, de Fátima, casada com Adriano.
Servo de Jesus, agradecido por ter sido chamado para o Ministério Pastoral, que ama e respeita a Igreja de Deus, que gosta de gente e deseja que todos sejam alcançados pela salvação e edificação em Cristo Jesus.

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