quarta-feira, 11 de março de 2020

O valor de um abraço*

Hoje, fui, mais uma vez, visitar um preso numa delegacia. De carona, visitei outros que, também, eram visitados por suas famílias. A porta se abre e cinco saem com um sorriso poucas vezes visto. Um senil, um adulto e três jovens. Estes, com uma média de 20 anos de idade. O adulto, 45 anos mais ou menos. O senil com 65 anos. Vamos chamá-los senil, adulto, jovem branco, jovem pardo e jovem negro.

Senil encontra a esposa, um dos filhos, uma amiga e dois netos. O abraço é diferente em cada um deles. Lágrimas rolam nos olhos. Não é um criminoso, deu bobeira com a justiça.

Adulto vê a esposa. Os dois ainda se refazendo do susto, está preso há 1 semana, se abraçam afetuosa e longamente. Ao se desgrudarem um pouco, os olhos estão cheios de lágrimas que rolam pelo rosto em abundância.

Jovem pardo é o mais visitado. Uma caravana de 7 estâo com ele: irmã, amigo, irmão, tia, 2 primas e a namorada. É mais jovem dos cinco. Sorri, conversa e manifesta decepção com a vida que está levando agora.

Jovem escuro também é bem visitado. 6 estão com ele. Pouco mais velho que o anterior. É mais fechado e pouco sorri. Segundo os familiares, foi levado pelas amizades.

Jovem branco recebe uma visita apenas. É a mamãe. Esta não falta em situação qualquer. Saem para um cantinho, sentam-se num banquinho, a mãe no colo do filho, e que cena bonita, apesar de numa prisão. A mão acaricia o rosto pra lá e pra cá de um e de outro. É como se dissessem que desejavam aproveitar bastante aqueles momentos, cerca de 1 h e 30 min. É como se o filho dissesse pra mãe estar decepcionado com a situação que foi envolvê-la.

Preciso sair mais cedo. É também um momento deles. Vou para outras atividades, mas uma cena não me sai da cabeça: o abraço. Cada abraço era diferente do outro. Havia o abraço do amigo, da amiga, do irmão, da irmã, da esposa, da mãe e do avô. Um abraço demorado, celebrado, curtido, festejado dentro do contexto. Não vi o abraço do pai no filho, mas vi do filho no pai. Lembrei-me de um provérbio lido em algum lugar: abrace seu filho antes que um traficante faça por você.

Cheguei à casa e, pouco depois, minha filha vem gratuitamente, como faz constantemente, me abraçar. Abraçou-me, beijou-me, falou nos meus ouvidos uma série de coisas e me lembrei dos abraços que há pouco presenciara. Seu abraço tornou-se de mais valor. Abrace hoje quem é do seu relacionamento. Pode ser que amanhã o abraço lhe custe muito mais ou nem venha acontecer.

Um abraço especial e oferecido a todos os humanos não teve seu clímax numa prisão, embora seu agente estivesse preso. Seu ponto alto foi na cruz. Na cruz do calvário. E alguém sugeriu que Cristo morrera de braços abertos para mostrar a humanidade que a todos desejava e podia abraçar. Ali mesmo, sem se tocarem, Ele abraçou o ladrão da direita, que a tradição chama Dimas. Entraram abraçados no céu, pois o Salvador afirmou “hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”.

Um grande abraço e seja abraçado por Jesus.


* Crônica escrita em 2004 e publicada no livro "Aos Olhos do Pai", páginas 35 e 36.

Um comentário:

  1. E muito gostoso quando vamos a uma deleg.ou presidio vemos pessoas assim, sao varios casos q as vzs,desconhecemos o motivo mais da prazer falar com elas ouvilas compartilhar dos seus pproblemas ouvir suas queixas isto nos faz ver como valorizamos pouco a liberdade q nos e proposta por Cristo

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