terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Mensagens na Ordem dos Pastores Batistas do Brasil - I

TEMA: “Bíblia nos Vales, Desertos e Montanhas da Vida e do Ministério”
Texto Bíblico: Jó 42.10-17
18/01/2012 - Congresso da OPBB (Foz do Iguaçu)
Pr. David Baêta Motta

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Saudações, reconhecimento e gratidão pelo convite. Creio ser um bom momento de compartilhamento de experiências sobre vales,  montanhas e desertos da vida, em função do momento que tenho vivido. Entendo que a metáfora “Montanhas, Desertos e Vales” aponta para momentos positivamente climáticos (a escalada do Everest), mas aponta também para momentos ruins (o vale da sombra da morte).
Confesso que gosto muito do livro de Jó. Convido-os a que se juntem a mim e pensemos, por alguns momentos, sobre a relação Deus e Jó.
Jó, que chegara ao limiar da blasfêmia, se rende ao Senhor. Mesmo cheio de feridas purulentas em seu corpo e com profunda dor emocional, ele se rende à soberania do Senhor, tanto naquilo que julgava entender, como naquilo que desconhecia.
Neste sermão, enfocarei a pessoa de Jó em sua relação consigo mesmo, quando se viu diante das implacáveis pressões e dos penosos sofrimentos surgidos dentro do mundo visível. Na verdade, estarei apresentando algumas conclusões pessoais à luz da história de Jó e as apresentarei em forma de princípios. Antes, porém, farei uma breve reflexão sobre o sofrimento “pastoral” quando somos afetados por alguma situação aversiva e exemplifico isso com os meus sofrimentos e minhas dores desde 2008 até agora na luta contra o câncer.

TRANSIÇÃO: As declarações a seguir não estão necessariamente numa ordem crescente de importância, mas ajudarão no entendimento do propósito motivacional deste sermão:

I – NINGUÉM É FORTE O TEMPO TODO, _____________________________________
Eis os níveis de sofrimento de Jó, quais sejam: o econômico, o social, o familiar, o psicológico, o físico e o espiritual.
Charles Swindoll (Jó, Um Homem de Tolerância Heróica, PP.51 e 52), examinado cada capítulo do livro de Jó, apresenta um roteiro da enfermidade e sintomas que acometeram Jó: feridas inflamadas, ulcerosas (2.7); coceira contínua (2.8); mudanças degenerativas na pele do rosto, desfiguração (2.12); perda de apetite (3.24); medo e depressão (3.25); feridas purulentas que se abrem, coçam, racham e supuram (7.5); vermes formados nas feridas (7.5); dificuldade para respirar (9.18); escurecimento da pálpebra (16.16); mau hálito (19.17); perda de peso (19.20; 33.21); dor excruciante, contínua (30.27); febre alta com arrepios e descoloração da pele, assim como ansiedade e diarreia (30.30).
O capítulo 3 de Jó apresenta um dos seus desabafos. Você deve notar que Jó em momento algum tem rompantes de fúria contra Deus. Ele simplesmente desaba diante da situação de tragédia. Atenção para este aviso você que é um super-homem:
__________________________________________________________________.
Os desabafos de Jó apontam para uma necessidade que todos nós temos, que é de, em dados momentos, abandonarmos nossas defesas pessoais e abrirmos a alma, em especial diante de quem não nos julga, mas nos compreende.
Há momentos sombrios em nossas vidas. Há momentos em que a esperança parece se esvair como fumaça. Em Eclesiastes 3.4, lemos que há “tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar,”. Precisamos nos dar o direito de sofrer, de reclamar, de chorar, de desabar, de reclamar e de se derramar diante de Deus. Afinal de contas, _____________________________________________.

II – TENHO UMA DOENÇA, _____________________________________
Jó foi pressionado o tempo todo. Pressão por dentro e por fora. A dor física, a dor emocional e a dor espiritual se somavam de maneira contundente. Conheço pessoas que são massacradas pela dor espiritual.
 A esposa de Jó (tão sofredora quanto ele e, certamente, em um momento de instabilidade emocional) toca exatamente em algo que era marca registrada em Jó: a INTEGRIDADE. Ela lhe faz um apelo letal: Então sua mulher lhe disse: "Você ainda mantém a sua integridade? Amaldiçoe a Deus, e morra! " Jó 2:9
A resposta de Jó diante do apelo letal de sua esposa mostra seu comportamento, ou melhor, sua motivação diante dos momentos em que a curva da vida está virada para baixo: “Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” (2.10).
Confesso que não imaginava que o câncer fosse se manifestar outra vez e tão rápido em meu organismo. Afinal, fazia 11 meses de operado; uma cirurgia pesada, demorada, arriscada e de grande porte. Estava na expectativa de ficar um bom tempo sem a doença (talvez pelo resto da vida). Entretanto, de modo assintomático, surgem dois novos tumores no meu fígado e, como num filme rebobinado, todo o sofrimento cirúrgico, CTI, semi-intensivo, quimioterapia e tudo o mais não são uma realidade distante.
O diagnóstico médico é que devo me submeter à nova cirurgia imediatamente, e que depois dela virá mais uma etapa na qual me submeterei a sessões de quimioterapia, com todo o seu desconforto.
Esses últimos três anos têm sido de uma pancada atrás da outra. Imagino o que se passa na cabeça da minha esposa, que tem suportado e sofrido todas essas coisas comigo. Por favor! Orem sempre por ela pedindo força e conforto da parte de Deus, e não somente por ela, mas também por nossas filhas.
Tenho um grande amigo chamado Marcello Queiróz. Há poucos dias liguei para ele e num determinado momento da conversa, quando falava sobre o retorno da doença, ele me disse: David, você é um cara forte. Você está com uma doença, mas não está doente. Interessante foi que lembrei que o oncologista, Dr. José E. A. Lamarca, que há três anos cuida de mim de modo muito competente, disse a mesma coisa. A doença surge, mas não me faz adoecer. Até agora os procedimentos médicos têm sido satisfatórios dentro das possibilidades de uma doença insidiosa como o câncer.
Digo a você amado leitor deste artigo que há algo mais do que os procedimentos médicos poderiam fazer. Creio na existência do Deus Todo-Poderoso. Creio nele de todo o coração. Creio em suas intervenções. Sei que ele cura a quem quiser e dá forças a outros para suportarem situações humanamente implacáveis quanto esta que estou a viver.
O texto bíblico a seguir é um suporte para mim (“O espírito do homem o sustenta na doença, mas o espírito deprimido, quem o levantará?” (Provérbios 18.14)).
 Realmente o espírito fortalecido por Deus sustenta a pessoa no seu tempo de angústia, no seu tempo de doença. Dentro de alguns dias me submeterei à terceira grande cirurgia em três anos (obs. Isto já aconteceu no dia 28/2/11). Em média é uma cirurgia por ano. Entretanto, tenho vivido um inexplicável otimismo. Uma paz muito grande. Humanamente é impossível explicar isso. É algo que vai além de uma terapia psicológica (muito embora não abra mão dela, pois minha terapeuta, Dra Míria Ribeiro, tem me abençoado tremendamente); minha explicação para isso que sinto, para essa paz e otimismo, é que Deus está com as suas boas mãos sobre mim; Ele é o Meu Pastor e nada me faltará.
Há momentos em que meus olhos ficam molhados por um choro que não sai.
Em outros momentos, penso em todo o desconforto e riscos que vêm aí. Há horas em que parece que vou esmorecer. Nesses momentos, lembro de que não devo permitir que o meu espírito se deprima. Busco a Deus, oro, submeto-me à sua soberania e cuidados pastorais. Ele sempre tem uma forma de me fortalecer. Por isso, digo: tenho uma doença, mas não estou doente (abatido), pois o meu Pastor está comigo.

III – MANTENHA-SE _________________________
Comprei um aparelho, liguei na tomada e depois de um tempo tirei da tomada e ele não funcionou. Fiz algumas tentativas e nada deu certo. Liguei para a assistência técnica que me mandou ler o manual em determinada página que dizia: para funcionar mantenha o equipamento conectado à rede de energia elétrica.
Esse foi o grande trunfo de Jó e é uma das maiores lições desse grande livro. Para funcionarmos bem é preciso que nos mantenhamos _____________ com a fonte da nossa “energia espiritual” o tempo todo. Jó creu em Deus mesmo quando as circunstâncias apontavam em sentido contrário e mesmo quando tudo conspirava contra a sua fé. Uma de suas mais solenes declarações de fé é aquela achada em 13.15: “Embora ele me mate, ainda assim esperarei nele;”.
Outra significativa declaração de um homem ____________ está em Jó 23.10: “Mas ele sabe o caminho por que eu ando; provando-me ele, sairei como o ouro.”.  Essa é uma declaração de esperança confiante.
Ele desenvolveu a esperança confiante no Senhor. Diante das incertezas sobre onde Deus estava, diante da dolorida busca pelas razões do silêncio de Deus, em todo tempo, ao contrário de desanimar e desertar, Jó optou por esperar e confiar.
Não abra mão de Deus em tempo algum, quer nos vales, quer nas montanhas, quer nos desertos, mesmo que você ache que ele está em silêncio ou age de modo injusto de acordo com o seu padrão de justiça. Creia nele o tempo todo. Aceite sua soberania. Assuma que até mesmo nos inexplicáveis da vida que causam profunda dor, Deus tem de alguma forma controle sobre tudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas vezes, na caminhada cristã, torna-se necessário um pouco de solidão, isto é, estar sozinho, estar consigo mesmo de modo a “contar” os dias da sua vida. Em tempos assim, aprendemos que não somos fortes o tempo todo. Aprendemos a administrar situações e a nos mantermos conectados com Deus a todo tempo. As tentações nos vêm e de alguma forma, como aprendemos em Jó, elas fazem parte de um grande projeto de Deus para o nosso bem-estar. Se nos saímos bem, somos fortalecidos. Se cairmos, ele age como fiel sumo sacerdote que nos acolhe, nos ampara sempre nos estendendo sua forte mão.
Creio firmemente que continuamos a ser criados, a ser formados em meio aos implacáveis pressionamentos da vida. Esta era a experiência que mais falava alto na experiência do profeta Jeremias: somos formados pelo grande oleiro todos os dias, até ser dia perfeito.

Fonte: http://www.opbb.org.br/

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