Pr.
Neemias Lima*
Sou do tempo em que pai beijar filho
era raro. Quando muito, beijava-se a filha. Abraço era um pouco mais presente,
mesmo assim meio seco. Um menino sentia-se constrangido se fosse beijado por
outro homem, mesmo que fosse pai. Lembro-me que meu pai era meio rude e essa
forma de carinho, inexistente. Veja bem, essa forma de carinho, pois era
carinhoso.
Os tempos mudaram e é comum pais e
filhos se abraçarem e beijarem, mesmo quando a idade destes alcança a
maturidade. Que experiência agradável é beijar meu filho de vinte anos. E minha
filha também, mais nova.
Recentemente, conheci um jovem
cristão que, mesmo contando vinte e cinco anos, nunca tinha recebido um abraço
de seu pai. Sentia falta disso e, por um milagre, não tinha se revoltado,
buscando formas agressivas de revelar sua dor. Um exemplo para jovens que
desejam justificar a ausência de carinho dos pais com atitudes pecaminosas. Um
conselho: sofram a dor, apresentem-na a Deus, casem-se e, quando tiverem
filhos, aja de modo diferente.
Em visita a uma prisão, vi vários
abraços: de um idoso na esposa, num filho, numa amiga e dois netos. De um
adulto na esposa que, longamente, conversaram sem trocar palavra. Jovem de cor parda
recebe uma caravana de sete e os abraços da irmã, do amigo, do irmão, da tia, de
duas primas e da namorada tem duração e sentimento diferentes. Jovem escuro
recebe seis e os abraços são afetuosos. Jovem de cor branca recebe uma visita,
da mamãe. Saem para um cantinho, sentam-se num banquinho, ela no colo dele, e
que cena bonita, apesar da prisão. A mão acaricia o rosto pra lá e pra cá de um
e de outro. E o abraço é banhado por lágrimas que rolam rosto abaixo.
Ao sair dali, a cena dos abraços não
me sai da cabeça. Cada abraço era diferente do outro. Mas todos eram demorados,
celebrados, curtidos, festejados e chorados. Por ironia, quando cheguei à casa,
recebo caloroso abraço de minha filha, gratuitamente, como faz constantemente.
Abraçou-me, beijou-me, falou nos meus ouvidos uma série de coisas e me lembrei
dos abraços que há pouco presenciara. Seu abraço tornou-se de mais valor.
Um provérbio conhecido décadas atrás
orientava: abrace seu filho antes que um traficante faça por você. Embora tenha
seu valor, é muito pouco. Abrace-o, abrace-a por amor, por relacionamento,
porque faz bem, estreita laços, aumenta a auto-estima.
A parábola do filho pródigo tem um
clímax: “E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava
longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe
ao pescoço e o beijou” - Lucas 15.20. Lançar-se ao pescoço é
abraçar. E mais: o beijou.
Penso em Deus como o Deus do abraço.
A cruz sugere, segundo alguns, isso, pois, ao estar de braços abertos, Jesus
anunciava: quero abraçar você. Hoje o abraço de Jesus pode acontecer na sua
vida.
Pai, abrace e beije seus filhos. Filhos, abracem e beijem
seu pai.
*Pastor da Igreja Batista do Braga. Suas pregações acontecem às quartas-feiras, 19h 29min, e domingos, 9h 44min e 19h 44min. A sede fica na Rua Omar Fontoura, 117 - Braga - em frente à Central Municipal de Marcação de Consultas.
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