Muito conhecido por sua veia polêmica, o Doutor em História José Francisco (foto), mais conhecido como Professor Chicão, é um dos mais conceituados historiadores do momento e tem prestígio reconhecido pela Academia, a ponte de ser palestrante em grandes encontros da área.
Exclusivamente, atendeu ao nosso blog e nos brindou com inteligentes comentários sobre a Reforma Protestante.
31 de outubro comemora-se a Reforma Protestante. Como é vista o movimento pela História?
Como uma reação aos desmandos católicos, mas também como uma tentativa dos príncipes alemães, sobretudo da Prússia, de não pagarem mais impostos e se apossarem das terras da igreja romana. Se Lutero não tivesse apoio financeiro e político dos príncipes alemães, a reforma não teria ocorrido. Ao mesmo tempo, havia séculos de insatisfação com a corrupção e a degradação do catolicismo e a Reforma ocorreu porque encontrou essa atmosfera espiritual e intelectual de insatisfação, criada desde Jerônimo de Praga até Erasmo de Roterdã
Na análise do movimento, há diferença entre um historiador cristão e um não cristão?
Não deveria haver, pois a crença pessoal de um historiador não pode intervir em seu trabalho. A crença de um historiador só interessa a ele mesmo.
Há benefícios da Reforma para a humanidade?
Há benefícios por permitir que os fieis tivessem acesso à Bíblia e por diminuir o poder da Igreja Católica, retirando dela o monopólio da visão do sagrado e oferecendo outras interpretações possíveis das escrituras.
Contra-Reforma: qual a análise de um historiador?
A Contra Reforma foi a tentativa da Igreja Católica de recuperar os fieis perdidos para os protestantes. Dentre as medidas tomadas, estava a criação da Companhia de Jesus, que dentre outras coisas, fez diminuir os maus tratos aos índios no Novo Mundo. Mas também teve seu lado sombrio ao reforçar os Tribunais do Santo Ofício para impedir o crescimento do protestantismo.
Na visão de um historiador crítico, os ideais da Reforma estão de pé?
Depende do que se considere como os ideais da Reforma. A reforma permitiu que o fiel tivesse acesso às escrituras. Isso foi muito positivo, sob ponto de vista espiritual e literário. Ao mesmo tempo, muitas igrejas ditas protestantes tornaram-se aquilo que Lutero combatia, ou seja, corruptas, cheias de intermediários entre os fieis e Deus e mais preocupadas com a arrecadação que com a transmissão de valores espirituais. Muitos dizem que se Lutero estivesse vivo ele faria uma outra Reforma, desta feita contra os próprios protestantes
Considerações finais.
Lutero foi um homem do seu tempo e assim deve ser compreendido. Até porque muito do que ele disse chocaria alguns pastores atuais. A Reforma idem. Deve ser compreendida a partir do contexto político, econômico e religioso do final do século XV e início do XVI.
Amanhã, a Reforma na visão de um Doutor em Teologia.
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