A Cristologia de Datena*

Um canal de tv reprisava uma entrevista de Datena. Falava de sua vida como apresentador de programa policial, de suas decepções com alguns outros apresentadores e enfatizou seu desejo de abandonar esse tipo de programa, afirmando que não suporta mais ter que apresentar algo cuja ênfase é a violência. Em determinado momento, Datena vociferou: “Que vou fazer, até Jesus sofreu com esse tipo de gente. Se Ele pudesse, descia daquela cruz e metia p... em todo mundo”. Corei quando ouvi. 

“Até Jesus sofreu...”. O “até Jesus sofreu” pode dar a ideia que nosso sofrimento tem a mesma causa que teve o de Jesus. É um engano. Ele sofreu por mim e por você sem nenhuma culpa. Aliás, é bom destacar, seu sofrimento não foi causado pelo homem, mas foi uma entrega sacrificial. Ele foi o agente e o paciente da ação. Paulo afirmou: “Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” – Filipenses 2.5-8. 

“Se Ele pudesse...”. Ele podia, mas não desejou. A Pilatos, que pensava ter sobre Ele autoridade, disse: “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fora dado; por isso aquele que me entregou a ti, maior pecado tem” - João 19.11. Sua onipotência estava limitada pelo seu amor. Nem precisava descer da cruz, bastava um assopro seu para destruir todos os seus algozes. Ele podia, mas não quis.

“Metia p... em todo mundo”. Ele não veio para bater. Veio para ensinar que a melhor resposta à violência é oferecer o outro lado do rosto. Quando Pedro tentou resolver com as mãos, decepando a orelha do soldado Malco, Jesus orientou: “Mete a tua espada no seu lugar; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. Ou pensas tu que eu não poderia rogar a meu Pai, e que ele não me mandaria agora mesmo mais de doze legiões de anjos?” - Mateus 26.50-53.

Datena é um bom jornalista, mas, em termos de Teologia, dá pena. Dá pena ouvir Datena falar de Jesus com esse tipo de conceito. Aliás, se esta crônica chegasse a ele, diria que Jesus é o único que pode lhe devolver a paz que ele disse ter perdido, inclusive utilizando medicamento para dormir. Por não ter descido da cruz e levado sua obra ao final é que Jesus permite que essas coisas sejam ditas por um homem de boa formação intelectual.

*Crônica escrita em 2004.