Nosso filho saiu de casa

Há datas especiais na vida de todo ser humano. Por exemplo, não me esqueço de 22 de novembro de 1987, dia em que eu e Ilcimar começamos o namoro. 02 de agosto de 1989, posse na Igreja Batista do Braga, marcante. 20 de janeiro de 1990, memorável, nosso casamento. Os dias 11 de novembro de 1991 e 23 de novembro de 1994, inesquecíveis, João Marcos e Raquel chegaram para nos alegrar. Não dá para alistar todas as datas importantes. Mas uma, a partir deste tempo, fará parte de nossa vida: 02 de março de 2015. Eu, Ilcimar e seu Lair, meu sogro, deixamos João Marcos no internato da FLAM - Faculdade Latino Americana de Teologia Integral, em Arujá, São Paulo. Choramos.
Alguns pensamentos me vieram à mente. Lembrei-me do dia em que peguei minha mala, despedi-me de meus pais e fui para o Seminário, 300 km de distância, isso há 32 anos. Imaginei como eles devem ter ficado naquele dia. Lembrei-me de experiências vividas por pais que precisam se despedir de filhos por outras razões, algumas dolorosas demais, como necessidade de internação em função de alguns desvios de conduta. E agradeci a Deus a graça de estar ali por outro motivo.
O choro não é de tristeza, é de saudade antecipada, se isso é possível. Estamos felizes, ele foi atender a um chamado. E não se trata de qualquer chamado, é um chamado do Senhor Jesus. E aí me lembro do dia em que voltávamos, eu e ele, de Rio Bonito, de uma reunião da Convenção Batista Fluminense quando, na estrada, ele me disse que precisava falar algo sério comigo. Preocupei-me. Disse-lhe que estava atento. Ele me informou que estava decidido a atender o chamado. Levei um susto. Não que fosse indesejado por nós, mas por seu perfil, jovem antenado com a modernidade. Foram 8 meses de amadurecimento. Pedi a alguns pastores e líderes amigos que nos ajudassem em oração. E chegou o dia dele se apresentar no Seminário. Num dos trechos dos 600 km em que viajamos, perguntei-lhe se estava feliz. Sua resposta, com muita convicção, foi “sim”. Isso nos consola.
Sua apresentação ao Seminário se deu um dia depois de nossa celebração de abertura da campanha de missões mundiais. No culto, preguei sobre o chamado, tema da campanha. Destaquei: cada cristão tem um chamado, devemos cumprir o chamado com alegria e daremos contas ao Senhor de nosso chamado.
Em tudo isso, vemos a bondosa e graciosa mão do Senhor. Nenhum mérito em nós. Pastores muito mais dedicados não desfrutam de tal privilégio. Mas continuaremos dependentes dessa ação divina e muito mais João Marcos. Quem se lança a desafio como este se envolve numa batalha espiritual nem sempre percebida. Forças contrárias farão tudo para que desista. Propostas tentadoras aparecerão para que perca o foco. Ele, e nós, precisamos de oração.
Ao voltarmos da viagem, caiu a ficha: nosso filho saiu de casa! Embora sempre os estimulássemos, investindo para isso, a participarem do REFIPAS - Retiro de Filhos de Pastores, sendo marcante a carta que recebeu dos conselheiros pr. Sócrates e profª. Lúcia, dias depois em casa. Congressos, acampamentos, temporadas e outras atividades faziam parte da agenda deles, mas o tempo era curto e sabíamos que voltariam. Agora, é diferente, só o abraçaremos e beijaremos de dois em dois meses e, provavelmente, morando, nunca mais voltará para casa.
Estamos felizes, está se cumprindo Salmos 127.3-4: “Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da mocidade”.
No mais, filhão querido, você nos proporcionou uma das maiores alegrias de nossa vida. Ela veio com choro, choro de alegria! Conte com a gente! Deus te fará vencedor! Permaneça firme diante das lutas e temporais, o dono da natureza e de sua vida cuidará de tudo.
Deus te abençoe!

Seus paizões Neemias e Ilcimar!