sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O contexto histórico em que Jesus nasceu - I


   Prof. José Francisco Moura
   Doutor em História

Um dos grandes problemas que opõe historiadores e religiosos em geral é que esses últimos desconhecem completamente o contexto histórico em que Jesus nasceu. Hoje começarei uma série de colunas tentando resumir de forma didática o que foi que Jesus encontrou em termos políticos, sociais, econômicos e religiosos quando chegou ao mundo.


Os gregos dominaram o mundo a partir de cerca de 323 a.C, quando Alexandre o Grande terminou seu processo de expansão. Mas após a morte do grande líder, seu império foi dividido entre seus generais. A Palestina ficou dominada primeiramente pelos Ptolomeus e depois pelos Selêucidas, duas dinastias gregas.

Os judeus já conheciam os gregos, pois muitos haviam lutado como mercenários junto deles. Sabiam do poderio de sua falange de guerra, de seus aparelhos para destruir e cercar cidades, parte deles descritos no livro de Daniel.

Ao se estabelecerem em toda região, que ia do Egito à Mesopotâmia, os gregos impuseram sua cultura aos povos dominados. Construíram dezenas de cidades. Nas mesmas, criaram as ágoras, que eram praças onde o comércio era realizado, abriram ginásios para exercícios, fundaram liceus para o ensino da filosofia. Estabeleceram templos de seus diversos deuses. A religião grega, porém, era meramente ritualística, sem livros sagrados e sem grandes elaborações teológicas, apenas de cunho sacrificial. Seus deuses tinham forma e sentimentos humanos.

Os gregos também impuseram sua moeda e sua língua aos povos dominados. A moeda e a língua grega viraram populares e universais, fundamentais para você fazer o comércio e se comunicar.

Bom, e como os judeus receberam tudo isso ? De duas maneiras. Os judeus mais ricos e instruídos adotaram rapidamente a cultura grega. Muitos passaram inclusive a ter nomes gregos. Passaram a frequentar os mesmos locais das elites gregas. Surgiram até filósofos judeus, como Filo de Alexandria, por exemplo. 

Ao aprenderem filosofia, esses judeus simpáticos aos gregos aprendiam a questionar suas próprias tradições e a usar a razão para negócios do estado. Passaram a ter visão de Homem universal que os gregos traziam com eles. A bíblia foi traduzida para o grego – a Septuagina. Comungar dos valores gregos passou a ser sinônimo de ser “civilizado”. Muitos conseguiram bons empregos na burocracia imperial grega.

Mal comparando, este grupo fazia o que a nossa classe média faz hoje: fala inglês, adora shoppings, vai a Disney, vê filmes americanos, trabalha em multinacionais, ou seja, comunga de valores que o capitalismo e os americanos, principalmente, disseminaram pelo mundo. 

Ocorre que grande parte da população da Palestina era formada por camponeses ignorantes que viviam em isoladas propriedades rurais nas montanhas, como em Judá, principalmente. Eles não sabiam ler nem mesmo seu idioma. Viviam a espera de um Messias que os tirassem da miséria. Cultuavam um deus da guerra (Jeová) que tinha ensinado a odiar tudo que fosse estrangeiro. E viviam no limite extremo da pobreza. Eram extremamente tradicionalistas, odiando novidades. Queriam congelar o tempo, vivendo como na época de seus antepassados. Eram isolacionistas e achavam que só os judeus seriam salvos.

Por conta disso, eram alvos fáceis de todos os tipos de falsos profetas e falsos messias, que apareciam aos montes prevendo o fim iminente e acusando os gregos de serem os representantes de tudo de ruim existia no mundo. Esses falsos profetas e falsos messias convocavam os camponeses a viverem no deserto, a se afastarem das cidades, onde, segundo eles, habitava o mal e o pecado. Eram rudes e guerreiros ao extremo.

Não foi à toa que as primeiras comunidades no deserto de Qmram surgiram nesta época, pregando o apocalipse e a vitória do deus de Israel sobre todos os inimigos caso os judeus se mantivessem dentro das tradições.  

Os judeus de classe média, os ricos e os cultos que simpatizavam com a cultura grega odiavam essa gente, a qual achavam pessoas atrasadas e ignorantes, dominadas pela superstição e pela crendice.
  
Bom, amigos, vocês podem imaginar no que esta rivalidade entre esses dois grupos poderia dar ? E isso nós veremos amanhã, na continuação deste texto.

Fonte: http://josefranciscoartigos.blogspot.com.br/

Um comentário:

  1. Parabéns! Excelente argumentação. Uma pesquisa de cunho histórico cientifico que ilumina o conhecimento histórico e o saber religioso.

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