Prof.
José Francisco Moura
Doutor em História
Um dos grandes problemas que
opõe historiadores e religiosos em geral é que esses últimos desconhecem
completamente o contexto histórico em que Jesus nasceu. Hoje começarei uma
série de colunas tentando resumir de forma didática o que foi que Jesus
encontrou em termos políticos, sociais, econômicos e religiosos quando chegou
ao mundo.
Os gregos dominaram o mundo
a partir de cerca de 323 a.C, quando Alexandre o Grande terminou seu processo
de expansão. Mas após a morte do grande líder, seu império foi dividido entre
seus generais. A Palestina ficou dominada primeiramente pelos Ptolomeus e
depois pelos Selêucidas, duas dinastias gregas.
Os judeus já conheciam os
gregos, pois muitos haviam lutado como mercenários junto deles. Sabiam do
poderio de sua falange de guerra, de seus aparelhos para destruir e cercar
cidades, parte deles descritos no livro de Daniel.
Ao se estabelecerem em toda
região, que ia do Egito à Mesopotâmia, os gregos impuseram sua cultura aos
povos dominados. Construíram dezenas de cidades. Nas mesmas, criaram as ágoras,
que eram praças onde o comércio era realizado, abriram ginásios para
exercícios, fundaram liceus para o ensino da filosofia. Estabeleceram templos de
seus diversos deuses. A religião grega, porém, era meramente ritualística, sem
livros sagrados e sem grandes elaborações teológicas, apenas de cunho
sacrificial. Seus deuses tinham forma e sentimentos humanos.
Os gregos também impuseram
sua moeda e sua língua aos povos dominados. A moeda e a língua grega viraram
populares e universais, fundamentais para você fazer o comércio e se comunicar.
Bom, e como os judeus
receberam tudo isso ? De duas maneiras. Os judeus mais ricos e instruídos
adotaram rapidamente a cultura grega. Muitos passaram inclusive a ter nomes
gregos. Passaram a frequentar os mesmos locais das elites gregas. Surgiram até
filósofos judeus, como Filo de Alexandria, por exemplo.
Ao aprenderem filosofia,
esses judeus simpáticos aos gregos aprendiam a questionar suas próprias
tradições e a usar a razão para negócios do estado. Passaram a ter visão de
Homem universal que os gregos traziam com eles. A bíblia foi traduzida para o
grego – a Septuagina. Comungar dos valores gregos passou a ser sinônimo de ser
“civilizado”. Muitos conseguiram bons empregos na burocracia imperial grega.
Mal comparando, este grupo
fazia o que a nossa classe média faz hoje: fala inglês, adora shoppings, vai a
Disney, vê filmes americanos, trabalha em multinacionais, ou seja, comunga de
valores que o capitalismo e os americanos, principalmente, disseminaram pelo
mundo.
Ocorre que grande parte da
população da Palestina era formada por camponeses ignorantes que viviam em
isoladas propriedades rurais nas montanhas, como em Judá, principalmente. Eles
não sabiam ler nem mesmo seu idioma. Viviam a espera de um Messias que os
tirassem da miséria. Cultuavam um deus da guerra (Jeová) que tinha ensinado a
odiar tudo que fosse estrangeiro. E viviam no limite extremo da pobreza. Eram
extremamente tradicionalistas, odiando novidades. Queriam congelar o tempo,
vivendo como na época de seus antepassados. Eram isolacionistas e achavam que
só os judeus seriam salvos.
Por conta disso, eram alvos
fáceis de todos os tipos de falsos profetas e falsos messias, que apareciam aos
montes prevendo o fim iminente e acusando os gregos de serem os representantes
de tudo de ruim existia no mundo. Esses falsos profetas e falsos messias convocavam
os camponeses a viverem no deserto, a se afastarem das cidades, onde, segundo
eles, habitava o mal e o pecado. Eram rudes e guerreiros ao extremo.
Não foi à toa que as
primeiras comunidades no deserto de Qmram surgiram nesta época, pregando o apocalipse
e a vitória do deus de Israel sobre todos os inimigos caso os judeus se
mantivessem dentro das tradições.
Os judeus de classe média,
os ricos e os cultos que simpatizavam com a cultura grega odiavam essa gente, a
qual achavam pessoas atrasadas e ignorantes, dominadas pela superstição e pela
crendice.
Fonte: http://josefranciscoartigos.blogspot.com.br/
Parabéns! Excelente argumentação. Uma pesquisa de cunho histórico cientifico que ilumina o conhecimento histórico e o saber religioso.
ResponderExcluir