Prof. José Francisco Moura
Doutor em História
Continuamos a série de escritos sobre o contexto histórico encontrado por Jesus na Palestina.
Como escrevemos ontem, após a dominação grega na Palestina dois grupos se formaram: um de judeus helenizados simpáticos à cultura grega e outro de judeus tradicionalistas radicais que odiavam a dominação feita pelos reis macedônios e tudo que ela trazia consigo em termos de mudanças culturais.
Rei Antíoco Epifânio IV (175 -164 a.C)
No início do século II a.C., um grupo de judeus helenizados quis acelerar a fusão da cultura grega com a judaica em evidente prejuízo a esta última. Unidos ao rei Antíocos Epifanio IV, combatiam a Lei, achando-a retrógrada e invenção dos homens. Consideravam a crença judaica cheia de superstições e lendas e propunham atualizar e modernizar sua religião, incorporando os estrangeiros e adotando suas ideias, sobretudo a de um deus universal, o que achavam útil à vida hebraica.
Para isso, instalaram um teatro perto do monte do templo e fizeram alterações nos sacrifícios que acabaram destinados não tanto ao custeio do serviço do templo, mas para alimentar os próprios gastos com as reformas, o que levava inclusive a bancar a máquina de guerra do rei. A gota d’água deste processo foi a tentativa de fusão da religião grega com a hebraica, representada pela instalação de uma estátua de Zeus dentro do templo de Jeová, atitude sempre narrada na Bíblia com a expressão “abominação da desolação”.
Conhecemos muito pouco sobre este grupo de judeus helenizados reformistas, pois aquilo que nos chegou são de seus inimigos ortodoxos. Mas é certo afirmarmos que essas medidas assustaram muitos judeus helenizados moderados, que as acharam ofensivas à cultura e a religião judaica. A instalação dentro do Templo de uma estátua de um deus com rosto grego, sem camisa, segurando um raio e sentado em um trono de quatro metros era uma ofensa sem tamanho a um povo que via na adoração de imagens a “deuses estrangeiros” o pior dos pecados terrenos. Esta imagem negativa de Zeus ficou tão fortemente marcada no imaginário judeu e posteriormente cristão que foi associada com a própria imagem do diabo, tantas vezes representado desta forma nos séculos posteriores.
Além de criar uma divisão entre os judeus helenizantes , nem seria preciso dizer que essas medidas irritaram sobremaneira os judeus tradicionalistas. Os primeiros protestos foram reprimidos com extrema violência pelo rei e por seus aliados judeus, gerando mártires que seriam usados como bodes expiatórios na luta contra a opressão estrangeira. O processo culminou na revolta dos irmãos Macabeus contra o domínio grego estabelecido, revolta esta narrada de forma magistral pela Bíblia.
Os irmãos Macabeus e seu grupo de guerreiros das montanhas eram o que havia de mais atrasado dentre os tradicionalistas. Eram nacionalistas fanáticos, isolacionistas que tinham uma visão restrita de seu deus como protetor apenas do povo judeu. Odiavam qualquer questionamento à Lei. Abominavam qualquer inovação cultural ou mesmo tecnológica. Achavam a cultura grega extremamente ofensiva a seus costumes e pleiteavam a expulsão imediata de todos os gregos e seus simpatizantes de Israel.
Os desdobramentos deste conflito para a região nós veremos a partir de amanhã.
Fonte: http://josefranciscoartigos.blogspot.com.br/
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