Prof. José Francisco de Moura
Doutor em História
Segue aqui a terceira parte de meus escritos sobre o contexto histórico em que Jesus nasceu.
Como vimos ontem, os macabeus, como representantes de uma facção de judeus tradicionalistas, não aceitaram as atitudes ecumênicas de fundir as religiões e os estados gregos e hebreus em um só e se revoltaram.
Juntaram grande número de seguidores e atacaram as guarnições selêucidas e os judeus simpáticos aos gregos. Os macabeus, pasmem, pediram ajuda aos romanos nesta luta. Roma era um poder crescente na Europa e já afrontava o domínio grego. A resposta dos gregos e judeus helenizados foi violenta, mas aos poucos os Macabeus foram se impondo e acabaram expulsando –os de Jerusalem. Cercaram os últimos judeus helenizados e os gregos resistentes em Acra durante quase dois anos, quando esses últimos se renderam. Era o fim do domínio grego na região.
Assim, os judeus recuperaram sua independência depois de séculos de dominação estrangeira. A dinastia dos Hasmoneus (134-63 a.C) governará a região durante os próximos 80 anos.
Território judeu sob os Hasmoneus (134-63 a.C)
Esta dinastia incluía os primeiros Macabeus e seus descendentes. Na cabeça dos conquistadores tradicionalistas eles se sentiam na época das conquistas militares de Josué e pleiteavam recuperar a extensão territorial dos tempos de David e Salomão. Para isso, resolveram expandir suas conquistas à força, atacando os povos vizinhos e forçando-os a se converterem ao judaísmo. Também atacaram algumas cidades gregas e converteram seus habitantes à força.
Esta tentativa expansionista dos hasmoneus irritou os ptolomeus, dinastia grega que governava o Egito, e depois os próprios romanos. Os ptolomeus, aliados a judeus derrotados pelos macabeus, por diversas vezes atacaram a Judéia.
No plano interno, os hasmoneus não vão governar em paz, já que entre os tradicionalistas começaram a ocorrer uma série de divisões. A dinastia dos hamoneus que governou Judá nesse período assumiu o controle do governo e do Templo. Ocorre que eles não eram descendentes do rei Daví, o que gerou logo insatisfações dentre os judeus mais ortodoxos. Era também extremamente difícil para os governantes hasmoneus obedecer fielmente a Lei e efetuar tarefas de governo secular. Em geral, a ação de governo implicava em desobedecer sempre partes de uma tradição fincada em tempos tão antigos.
É por essa época que três grupos bem delimitados aparecem nos textos: os fariseus, os saduceus e os essênios. Para que você, leitor, entenda esses grupos, peço que pense neles também como partidos políticos, já que entre suas demandas estava o questionamento do controle do governo pelos hasmoneus e o estabelecimento de seus projetos de sociedade.
Os fariseus propunham que além da lei escrita deixada por Moisés havia outras leis que foram transmitidas pela tradição oral. Era uma forma que encontraram de estar sempre atualizando a tradição em um mundo totalmente diferente daquele dos tempos imemoriais.
Já os saduceus se opunham a isso e exigiam que apenas a Lei escrita fosse seguida. Desconfiavam que a interpretação da lei escrita pelo uso da tradição oral fosse um pretexto para desobedecer os textos antigos, como os judeus reformistas tentaram fazer anos antes. Criaram então uma lista de punições, o Livro dos Decretos, no qual estabeleciam quais punições o desobediente à Lei estava sujeito, crimes passíveis de apedrejamento, estrangulamento, decapitação ou morte na fogueira.
Os essênios eram um grupo de tradicionalistas isolacionistas ainda mais radical. Achavam que Jerusalém estava absolutamente corrompida e que o Templo era um lugar de perdição. Passaram a viver no deserto pregando um purismo de vida comunitária e o apocalipse iminente, onde Jeová faria triunfar o Bem (eles) contra o Mal (todo o resto do mundo). Achavam que o corpo era o próprio templo de deus e por isso deveriam mantê-lo puro, banhando-se várias vezes em fontes sagradas e se alimentando de forma frugal. O isolamento da comunidade garantiria o isolamento contra o mal.
Esses três grupos vão ter uma relação amistosa ou conflituosa com os hasmoneus, dependendo da época ou como os hasmoneus faziam a política de seus interesses. No limite, as relações conflituosas muitas vezes terminaram em massacres bárbaros. Até porque os últimos reis hasmoneus acabaram se afastando dos tradicionalistas e adotando alguns costumes da cultura grega, passando a ter verdadeiro repúdio pelos adversários, a quem acusavam de usar a Lei por oportunismo.
Em geral, porém, o período dos hasmoneus consolidou a criação das escolas judaicas onde se aprendia a Torá, o que que possibilitou a expansão das sinagogas em todo o mundo mediterrâneo e em última instância criou o judaísmo tal como o conhecemos hoje.
Mas na verdade, afastar-se completamente da cultura grega era impossível em uma época em que a língua e a moeda grega haviam se tornado universais. Os próprios nomes dos últimos reis hasmoneus mostram que eles acabaram se curvando a este internacionalismo grego. Para que você tenha uma ideia, um dos últimos reis hasmoneus chamava-se Alexandre, contraditoriamente, o nome do conquistador da Palestina.
Para que se entenda o poder da cultura grega naquele mundo é necessário que você, leitor, o compare com o poder que a cultura americana e o capitalismo exercem hoje em nossas vidas. Sem isso, toda a leitura que você está fazendo desses escritos será em vão. Até a poderosa Roma rendeu-se à cultura grega.
Amanhã veremos o colapso do reino hasmoneu com a chegada dos romanos na região.
Fonte: http://josefranciscoartigos.blogspot.com.br/
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