Stephen Hawking - Foto do Jornal O Globo |
LIÇÃO DE VIDA
Carlos Novaes*Stephen Hawking morreu.
É o que garantem as manchetes à minha vista logo cedo.
Sequer sei imaginar, quanto menos medir, senão de maneira muito superficial, a perplexidade e a angústia de alguém que, aos vinte e poucos anos, com o amplo horizonte da vida pela frente, é surpreendido pelo diagnóstico médico a confirmar uma doença degenerativa incurável, pela qual a pessoa está destinada a perder, gradual e implacavelmente, os movimentos do corpo devido à paralisia dos músculos, sem que sejam atingidas as funções cerebrais — reparem na peculiaridade desse mal que impinge ao vitimado uma condição ainda mais cruel, pois permanece acompanhando, com plena lucidez, todo o inevitável processo do seu atrofiamento físico.
Pr. Carlos Novaes |
Não foi o caso do brilhante cientista inglês, como sabemos. Apesar de não profes-sar qualquer fé religiosa, admitindo sem constrangimentos a convicção ateísta, Hawking deu ao mundo uma demonstração de persistência e superação. Quer dizer, aquele rapaz, recém-chegado à ensolarada e vigorosa fase da juventude, tinha tudo para se render ao desalento pessimista, ou mesmo às lamúrias ressentidas dos sonhos frustrados, mas não se deixou abater pelos percalços dessa jornada de imprevistas trilhas pedregosas, a que chamamos vida, e se tornou o septuagenário que soube contrapor, ao peso do respeitado rigor acadêmico, a leveza do bom humor no trato diário com familiares, colegas e alunos.
Enfim, nem só a postura devota explica a qualidade de caráter e a maturidade inte-rior de uma pessoa. Há muitos devotos, aliás, cuja maturidade e firmeza ética não são seus pontos fortes.
Deram a essa nefasta doença um nome acadêmico — esclerose lateral amiotrófica, ou ELA, como também passou a ser conhecida. E até o final dos seus dias, ao longo de sete décadas e meia, o autor de Uma breve história do tempo, e pesquisador nas áreas da cosmologia teórica e gravidade quântica, soube transformá-la numa parceira com a qual, embora indesejável, precisou aprender a conviver. E, mesmo em face das limitações de locomoção e comunicação, atuou com o entusiasmo e a energia que estenderam sua influência a cientistas do mundo inteiro, facilitando a leitores comuns o acesso a ideias e teorias normalmente restritas ao hermético ambiente científico.
Stephen Hawking morreu, informam os noticiários. E dou-me conta que ele não foi apenas um professor de ciências. Foi, acima de tudo, um professor de vida.
Talvez agora os piedosos de plantão aproveitem para replicar: e quanto ao seu evidente ateísmo?
Acredito ser também uma forma de exaltação a Deus, ainda que quem assim o exalte nem saiba que o faz, contemplar a natureza e entendê-la como algo tão completo e perfeito que prescinde da existência de um Criador.
*Carlos César Peff Novaes é pastor da Igreja Batista Barão de Taquara, RJ, Professor Titular do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
** Stephen William Hawking foi um físico teórico e cosmólogo britânico e um dos mais consagrados cientistas da atualidade. Para muitos, o maior depois de Albert Einstein, físico alemão. Nasceu no dia 8 de janeiro de 1942, em Oxford, Reino Unido, e faleceu em 14 de março de 2018, em Cambridge, Reino Unido.
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