Lição 12 – A luta interior (II)
Texto bíblico: Gálatas 5.16,22-25
Uma fortaleza (do latim fortis, “forte”, e facere, “fazer”) é uma estrutura arquitetônica militar projetada para a guerra defensiva. Em sentido simbólico, na luta interior que travamos contra o mal, nossas tendências naturais para o pecado funcionam como portas da fortaleza da alma.
Nesta lição, aprenderemos como vencer essa batalha contra o pecado, mantendo cerradas as portas da alma aos ataques do inimigo.
O que nos define?
Ao crer em Cristo, os pecadores são libertos do pecado para uma nova existência. Esse viver caracteriza-se pelo agir do Espírito (Tt 3.3,5,8). Portanto, cada virtude espiritual relacionada no “fruto” (singular, no texto grego original) sugere um modo de viver e de servir (Rm 12.11).
A existência do fruto revela quem o cristão é (2Co 5.17) e desvenda a contrapartida divina para vencer as “obras” (plural, no texto grego original) da carne (Jo 15.8).
De acordo com o comportamento esperado por Deus (1Jo 2.6), espera-se do cristão as abordagens seguintes:
1) A opção pelo AMOR servil (Gl 5.22a)
Antes que pudéssemos amar a Deus, ele nos amou primeiro (Gl 2.20). No gesto amoroso de Deus, encontramos o sentido bíblico do amor: uma entrega completa e incondicional, a qual serve como o motor a nos impulsionar na vida religiosa.
Em Gálatas 5, Paulo apresenta três observações sobre a opção cristã pelo amor:
a) a fé opera pelo amor (Gl 5.6). Isso significa, principalmente, que sem amor, a fé é estéril (Tg 2.26).
b) pela instrumentalidade do amor, podemos servir uns aos outros, não por mera obrigação, mas como bons despenseiros da graça de Deus (Gl 5.13; 1Pe 4.10).
c) Paulo coloca o amor como a base para todas as demais virtudes (Gl 5.22).
Explique, com suas palavras, a diferença fundamental entre a paixão (uma forma de amor) e o amor cristão (o jeito correto de amar).
2) O legado cristão da “ALEGRIA” (Gl 5.22a).
A salvação recebida é o ponto de partida para a alegria contagiante do crente (Lc 10.20). Tal sentimento persiste em nosso interior na certeza de que, a partir da fé, experimentamos um relacionamento vivo com o Pai celestial (Fp 4.4).
No grego bíblico, a palavra alegria significa gozo, regozijo, satisfação. Demonstrações de alegria incluem, entre outras realidades, as situações seguintes:
● alegria na oração, enchendo o coração com a esperança que liberta (Rm 12.12; Fp 1.4);
● alegria no sofrimento (1Pe 4.13), pois sabemos que é uma grande honra “padecer como cristão” no mundo (1Pe 4.16) ;
● alegria para contribuir com os necessitados e de trabalhar na obra de Deus (2Co 9.7; Sl 100.2; At 20.24);
A exultação nos relacionamentos (Rm 12.15a) revela uma constatação interessante: a alegria do pastor contagia a igreja e vice-versa. Isso, porque a alegria espalha-se fácil e rapidamente de uma pessoa para outra, sendo um fruto difícil de colher sozinho (Ne 8.10)...
Você é um daqueles crentes cabisbaixos, de tom sério e grave, em todos os momentos, ou tem facilidade de expressar os motivos alegres do viver cristão?
3) A regra áurea da “PAZ” (Gl 5.22a)
Paz (gr. eirene, concórdia, harmonia, reconciliação) é o resultado imediato da ação do Espírito Santo (Ez 37.26; Jo 14.26,27). A inclinação do Espírito, portanto, traz vida e paz (Rm 8.6). Nesse ambiente espiritual somos regrados pela paz de Deus, que excede todo o entendimento, guarda os corações e os pensamentos em Cristo Jesus (Fp 4.7).
Podemos falar de paz em nível interior, no espírito, e também exterior, com os demais, pois o perdão de Deus traz reconciliação (Rm 12.18). Desse modo, sustentados pela harmonia do Espírito, vivemos em paz com Deus e em plena comunhão com ele e com os demais irmãos (Rm 5.1; Ef 2.14,17).
Você consegue identificar alguns fatores que perturbam a paz no corpo de Cristo?
4) O tratamento terapêutico da LONGANIMIDADE (Gl 5.22b)
Uma pessoa longânime é alguém compassivo, não vingativo. Quem apresenta esse fruto mostra clemência ao pecador, a resistência pacífica diante do sofrimento provocado por outra pessoa (1Pe 3.4).
Podemos agir assim porque Deus o faz conosco (Sl 103.8,9). Ele demonstra constantemente seu caráter longânime: “O Senhor é tardio em irar-se, e grande em misericórdia; perdoa a iniquidade e a transgressão...” (Nm 14.18a).
Devemos mostrar tolerância com os fracos na fé se esperamos manifestar esse fruto (Gl 6.1). Portanto, não precipitemos atos de julgamento e de condenação, mas exercitemos a paciência. Esse é o princípio salutar da longanimidade, em obediência ao mandado do Espírito (Gl 6.3).
De que maneira podemos demonstrar o fruto da longanimidade?
5) Ações graciosas de BENIGNIDADE e BONDADE (Gl 5.22c)
Ambos os termos têm sua origem na pessoa de Deus (Sl 23.6; 25.7; 31.19). De posse delas, os homens são levados a louvar o Criador (Sl 65.4; Sl 107.8,15,21,31).
Paulo usa benignidade (gr. krestotes, gentileza, amorosidade, graciosidade) no sentido de uma disposição para o bem, um caráter virtuoso. A palavra aproxima-se muito do entendimento dos filósofos gregos, para os quais o homem deveria ser íntegro, ou seja, predispor-se ao bem comum para encontrar a felicidade.
Bondade (gr. agathosune) já é algo prático, resultante de uma ação virtuosa. No sentido espiritual, “bondade” não é um sentimento, mas uma atitude benéfica em prol dos demais motivada pelo amor.
Nosso amor a Cristo materializa-se em ações eficazes em nosso viver?
6) O compromisso inadiável da FIDELIDADE (Gl 5.22c)
Fidelidade (gr. pistis) é confiança, fé, certeza, sem a qual o comportamento cristão fica duvidoso.
São importantes aspectos da fidelidade a Deus:
● reverência e temor diante de sua Palavra e seus ensinos (Sl 19.7; Tt 1.9);
● testemunho de vida autêntico diante do mundo (Nm 12.7);
● lealdade aos demais, na igreja, nas amizades, no casamento, no trabalho (Js 24.14; 1Co 4.2; Fp 4.3; Dn 6.4).
Em resumo, “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6a); ela é o nosso escudo contra as investidas do inimigo de nossas almas (Ef 6.16); a fidelidade a Cristo nos levará às últimas consequências: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2.10b).
7) A resposta branda da MANSIDÃO (Gl 5.23)
A palavra mansidão decorre da “humildade” (Mt 11.29). A única maneira de vivenciá-la é valorizar o outro e não ter de si um conceito maior do que convém (Rm 12.3).
Entretanto, ser manso não é ser humilde. Ser manso é ser gentil, educado com os outros, respeitador, enfim, ser capaz de ter uma resposta sempre positiva. O exemplo inspirador de Jesus é tomado por Paulo, inclusive na hora de repreender o comportamento errático dos coríntios (1Co 4.21; 2Co 10.1).
Mansidão não é uma atitude passiva e resignada, mas ativa e reagente. De que modo podemos demonstrar essa atitude, hoje (Sl 37.8; Pv 15.1)?
8) O freio autodisciplinar do DOMÍNIO PRÓPRIO (Gl 5.23)
O domínio próprio fecha a lista de dons, porque é o resumo do espírito livre e responsável, do indivíduo que age por consciência própria e não por causa de leis exteriores e cerceadoras da liberdade pessoal. Cristãos têm sua mente renovada pelo Espírito (Rm 12.1,2) e seu viver não mais se adéqua ao estilo de vida carnal.
Paulo nos ensina em Gálatas que fomos libertos para servir ao Deus vivo, com consciência e por escolha pessoal. Afinal, Deus é o responsável pela nossa liberdade.
Pelas obras da carne (retratadas no capítulo anterior), Satanás visa à modelagem sensual do caráter e da personalidade do cristão. Vaidade, orgulho e concupiscência batalham pela alma, convidam-na a pecar. Quem se abre para a carne é desobediente, não se domina. Entretanto, aquele que resiste aos ataques do inimigo de nossas almas é fiel e anda conforme o Espírito (1Co 6.12).
Você consegue exercitar a virtude espiritual do autocontrole?
Conselhos úteis
O fruto do Espírito é a dádiva de Deus para todos os que foram libertos do poder escravizador do pecado. Hoje, mais do que nunca, é tempo de frutificar. Não esperemos mais. Exerçamos nossa liberdade para servir Deus com o fruto que ele nos oferece.
Ao agir assim, demonstraremos o caráter de Cristo: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que ANDÁSSEMOS NELAS” (Ef 2.10).