sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

PICCOLA ITALIA

Pr. João Soares da Fonseca, Escritor

Em 1874, os 386 primeiros camponeses italianos que desembarcaram do navio La Sofia chegaram ao Espírito Santo em 21 de fevereiro. Por isso, esse é o Dia do Imigrante Italiano no Brasil.

Nas décadas de 60 e 70, havia em nossa cidade – Colatina – tanto sobrenome italiano, que a Itália parecia ser lá. Por exemplo, o dono do açougue era Favoretto. O moinho de milho era do Menegatti. Os donos de mercearia eram: Zanetti, Margotto, Dallapicola. As oficinas mecânicas eram: uma do Dallapicolla, outra do Ballarini. Das muitas serrarias, uma era do Faroni.  A primeira casa em que moramos, alugada, pertencia aos Simonassi. Depois compramos um lote, vendido pelo Zacché… O eterno deputado estadual era o João Meneghelli, de quem fui depois secretário particular. O armazém de café era do Forza. O Nicchio também tinha um. Nosso fornecedor de víveres era o Cesar Spelta, vizinho do Massariol. O maior comerciante era Dalla Bernardina. O pintor de placas era o Ludovico, meu primeiro patrão. O prefeito era Syro Tedoldi, depois Paulo Stefenoni, que derrotou Raul Gilberti. Dilo Binda era o médico mais famoso, que depois também virou prefeito. Um radialista se chamava Osvaldo Negrelli. Vittorio Nico comerciava pneus. Egisto Pezzin fazia móveis. O único seleiro (que produzia e consertava selas e arreios para cavalos) que conheci na vida era o meu primo, Pedro Palma.

No ginásio, nossa professora de matemática era a bela, porém fria, Dilza Bonggiovanni. O professor de português era o Wenceslau Ballarini. No segundo grau, o professor de história econômica do Brasil era o Zorzanelli. Aliás, eram dois Zorzanellis, irmãos. Um ensinava história, o outro português. Confirmando: português, e não italiano. A professora de desenho era Martinelli; a de francês, Barbieri; e a de inglês, Bragatto. Nosso instrutor de educação física era o exigente Edmar Margotto. “Corpo ereto”, gritava o tempo todo.

Meus colegas da escola tinham como sobrenome: Anicchini, Bassetti, Bianchini, Bortolini, Cagliari, Campana, Covre, Delboni, Facchetti, Frizzera, Gasparini, Gava, Gobbi, Guidoni, Matedi, Passamani, Pelissari, Perini, Polesi, Pretti, Sperandio, Torezani, Vago… Até na Igreja batista, o vice-presidente era Cavaleri, cuja esposa era Bortolozzo. A tesoureira era dona Ida Zipinotti. José Mariquito, filho de dona Maria das Dores Margatto, era o presidente da mocidade. Havia outras famílias de sobrenome diferente: Bendinelli, Fiorotti, Simonassi, Tagliatti, Venturotti…

Meus vizinhos eram os Chieppe, Franzotti, Gallo, Giacome, Guaitolini, Juliatti, Riva, Soneghetti, Del Santo, Trevisani, Patuso, Cecatto… No trabalho, convivi com Ludovico, Romagna, Pancieri, Pretti, Ferrari, Meneghelli… Imigrantes e nacionais viviam em doce harmonia.

Quando em novembro de 1981, fui para o Iraque, fiquei quatro horas de molho no aeroporto Leonardo da Vinci, em Roma. Com a cabeça cansada do Atlântico, e o coração agitado por muitas novas emoções e incertezas, eu só queria superficialidades. Por isso, fui a uma banca de jornais onde se disponibilizava um catálogo telefônico. Abri-o a esmo, e os nomes de Colatina saltavam aos meus olhos como conhecidos amigos de infância. Na velha Roma, senti-me como se estivesse na velha Colatina. Procurei os sobrenomes dos meus avôs pelo lado de minha mãe: Di Palma (vovô) e Busato (vovó), às vezes grafado Busatto, Buzato, Buzatto. Desisti de imediato: eram tantos, que não havia como flagrar parentesco em páginas e páginas de um catálogo inútil.

Com tanta indisposição contra o imigrante contemporâneo, creio que nos faria bem lembrar que nesta terra de Deus (Sl 24.1), todos somos imigrantes! E que mais dia, menos dia, todos seremos deportados!

Fonte: Facebook do autor: https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=10231702916415102&id=1208384522&rdid=ppFbf9MW1QQsNkCJ#

(Publicado na Revista Novas, No. 395 | FEVEREIRO | 2025 | p. 23, Editada pelo Pr. Gilton Medeiros. Disponível em sua totalidade aqui: https://juventudecrista.com.br/.../02/Novas_395-Digital.pdf

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