Pr. João Soares da Fonseca
Conta-se que certa vez, quando Sócrates caminhava pelas ruas de Atenas, o célebre filósofo grego foi abordado por um homem que desejava contar-lhe algo sobre a vida de outro amigo comum.
- Quero contar-lhe algo sobre nosso amigo Andreas, que vai deixar-te boquiaberto.
- Espera, interrompeu o filósofo. ¾ Passaste o que vais dizer-me pelo crivo das três peneiras?
- Três peneiras? - espantou-se o interlocutor.
- Primeira peneira: a coisa que me contarás é verdade?
- Eu assim creio, pois me foi contada por alguém de confiança - diz o amigo.
- Bem, alguém te disse... Vejamos a segunda peneira: A coisa que pretendes contar-me é boa?
- Não exatamente.
- Isso começa a me esclarecer - argumenta Sócrates. - E a terceira peneira: O que tinhas intenção de contar-me é necessário? Tem algo de utilidade tanto para mim, como para nosso amigo Andreas e para ti mesmo?
- Não, não é útil.
- Então, caro amigo, a coisa que pretendias contar-me não é certamente verdadeira, nem boa, nem necessária. Assim sendo, não tenho intenção de conhecê-la e aconselho-te a não mais procurares veiculá-la.
Tertuliano, um dos primeiros líderes da igreja cristã, falava de Sócrates como um quase convertido. "Quase nosso", eram suas palavras. E é pena que um quase-crente às vezes mostre muito mais rigor com a verdade e cuidado em comentar algo da vida alheia do que muito supercrente.
Combinemos o seguinte: da próxima vez que alguém vier lhe contar algo sobre alguém, faça o teste das três peneiras:
Será que é verdade?
Mesmo sendo verdade, é coisa boa?
Será que é necessário?
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