Pescadores relembram drama de naufrágio após 26 dias à deriva
Barco com seis pessoas saiu de Cabo Frio (RJ) e foi achado em Itajaí (SC).
'Sonhava com comida. Estava no mar, só bebendo urina', disse tripulante.
Seis tripulantes do barco Wiltamar III ficaram à deriva por 26 dias. Os pescadores foram resgatados na noite de segunda-feira (27). O barco saiu de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, no dia 1º de junho e foi encontrado a cerca de 180 km da Costa de Itajaí, em Santa Catarina.
Do litoral de Cabo Frio até a divisa do Paraná com Santa Catarina, foram 500 quilômetros de desvio da rota, uma eternidade para os pescadores. Uma pane elétrica desligou o motor e cortou a comunicação por rádio com o continente. Dois dias depois, terminaram o arroz e o feijão que havia a bordo. Não tinham mais comida. Mais três dias, e o barco ficou sem água potável.
Durante quatro dias, enfrentaram uma tempestade. Os pescadores conseguiram um pouco de água da chuva, mas se afastaram mais da costa. Totalmente sem controle do barco, foram levados pela corrente. E começaram a perder a esperança. Foram resgatados por um barco italiano, a 200 quilômetros da costa de Santa Satarina. “Subi no mastro e comecei a sacudir o colete de segurança. Fiquei igual um maluco, durante dez ou quinze minutos até ele me ver”, lembra Cristiano Pereira de Souza, 33 anos.
O mar agitado jogava o pequeno barco de pesca contra o imenso casco do cargueiro.
Por duas vezes, o choque entre eles danificou seriamente o barco. Em mar revolto, os choques do pequeno barco de madeira, com o imenso casco de ferro do navio, colocaram o salvamento em alto risco.
Por duas vezes, o choque entre eles danificou seriamente o barco. Em mar revolto, os choques do pequeno barco de madeira, com o imenso casco de ferro do navio, colocaram o salvamento em alto risco.
Cristiano teve um papel heróico. Ele foi o primeiro a subir a bordo, com uma escada lançada pelos tripulantes do navio. Em seguida, três outros pescadores foram içados por cintos de segurança. Cristiano foi o primeiro a subir a bordo usando uma escada. Três outros pescadores foram içados por cordas e cadeirinhas amarradas na cintura.
Um dos pescadores foi ferido no ombro no resgaste. Durante a tempestade, uma âncora foi lançada contra ele. Eles estavam mal demais para subir sozinhos. Crsitiano colocou um cinto de segurança e voltou ao barco para salvar os companheiros. Ele ajudou dois outros pescadores, que estavam muito mal. Ele ajudou os colegas na subida no cargueiro.
Quando tudo parecia resolvido, o mar revolto derramou uma pilha de caixas sobre a corda amarrada a Cristiano. Ele ficou preso ao barco. Precisou soltar o cinto e subir pela escada mais uma vez. Uma terceira pancada derrubou caixas sobre a corda e o prendeu Cristiano ao barco.
Ele desatou o cinto de segurança e se lançou para agarrar a escada. Assim que os homens conseguiram deixar o barco, ele afundou. Minutos depois de todos os pescadores passarem para o navio italiano, o barco pesqueiro afundou. Foram salvos por muito pouco.
Ele desatou o cinto de segurança e se lançou para agarrar a escada. Assim que os homens conseguiram deixar o barco, ele afundou. Minutos depois de todos os pescadores passarem para o navio italiano, o barco pesqueiro afundou. Foram salvos por muito pouco.
Fotos obtidas com exclusividade pelo "Fantástico" foram tiradas por tripulantes do
navio italiano. Elas mostram como os náufragos estavam debilitados. Apenas um, Cristiano, conseguia sorrir. Dois dos sobreviventes (Cristiano e Maycon Lima dos Santos, 24), tiveram alta do hospital.
navio italiano. Elas mostram como os náufragos estavam debilitados. Apenas um, Cristiano, conseguia sorrir. Dois dos sobreviventes (Cristiano e Maycon Lima dos Santos, 24), tiveram alta do hospital.
Reencontro com o filho
O "Fantástico" acompanhou a viagem deles de volta para casa. Na estrada, lembraram os momentos mais difíceis que viveram no mar. “Penso muito no filho. A gente pensa em todo mundo. Mas o filho da gente, sei lá, é metade da gente”, disse Cristiano, que reencontrou seu filho de sete anos em Marataízes, no litoral sul do Espírito Santo. Eles estão vinte quilos mais magros, mas recuperados do susto e recebidos com festa. O pai de Maicon já decidiu: “Agora nunca mais ele vai pro mar. Está proibido.”
O "Fantástico" acompanhou a viagem deles de volta para casa. Na estrada, lembraram os momentos mais difíceis que viveram no mar. “Penso muito no filho. A gente pensa em todo mundo. Mas o filho da gente, sei lá, é metade da gente”, disse Cristiano, que reencontrou seu filho de sete anos em Marataízes, no litoral sul do Espírito Santo. Eles estão vinte quilos mais magros, mas recuperados do susto e recebidos com festa. O pai de Maicon já decidiu: “Agora nunca mais ele vai pro mar. Está proibido.”
Itaipava é o porto que concentra maior número de embarcações de pesca, nesta área litorânea do Espírito Santo. Com a maré baixa, os barcos ficam na areia da praia. Os pescadores voltaram ao mar no local onde tudo começou, quando eles partiram para uma pescaria de rotina, num barco de madeira com doze metros de comprimento e capacidade para armazenar quatro toneladas de peixes.
Eles saíram como pescadores anônimos e voltaram como heróis da sobrevivência. Cristiano completou 33 anos de idade quando o barco já estava à deriva. “A gente tava à deriva, já meio desanimado. Eu falei: 'gente, eu faço aniversário hoje vamos pular no mar aí. O mar tá bonito azulzinho, tudo paradinho'", conta ele.
Mas o desânimo tomou conta de todos. Teve gente que chegou a delirar de tanta sede. “Sonhava com a comida, quando acordava estava no meio do mar perdido. Só bebendo urina. Com gosto de urina na boca”, lembra Maicon. A urina foi o que manteve os pescadores vivos. "Há uma série de componentes na urina que mantêm o indivíduo algum tempo. É o ideal? Obviamente não", explica a endocrinologista Ana Cristina Belsito. "A ingestão da urina acaba levando a uma intoxicação. Essas substâncias eliminadas pelo corpo acabam levando a um grau de doença interna do paciente", completa Luiz Alexandre, diretor do Hospital Souza Aguiar.
Quatro pescadores ainda estão internados em hospitais do Rio, fora de perigo depois de 26 dias perdidos no mar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário