Ainda na pré-adolescência vendia cocadas
pelas ruas empoeiradas da amada Cardoso Moreira. Segundo minha mãe, eu sugeri a
atividade para ajudar no orçamento da casa, em tempos difíceis. Nas lembranças
dela, disse: “Mãe, a senhora faz cocada tão gostosa, faça para eu vender para
as pessoas”.
Certo
dia, depois de andar aproximadamente dez quilômetros, estava do outro lado do
Rio Muriaé, praticamente em frente à nossa casa. Três eram as possibilidades:
fazer todo o caminho de volta, atravessar a nado ou caminhar uns quinhentos
metros e atravessar uma ponte de ferro e em poucos minutos chegaria à casa.
Optei por esta.
Ao
chegar à ponte e dar os primeiros passos, o espaço entre os vãos me causou
temor e descobri o medo de altura. Mais tarde, aprendi que é acrofobia.
Tive
vontade de me arrastar, mas não tive coragem. A saída foi retornar e fazer todo
o percurso de volta, que fora aumentado com a ida até à ponte.
Há
poucos dias, parei o carro, atravessei de um lado para o outro e ainda fiz um
filme para marcar.
Não desista de seu desafio, mesmo que o vença quarenta anos depois.
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