Denize Quintal Alvarenga (*)
A ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL
O novo Plano Nacional de Educação enviado ao congresso para discussão e aprovação com metas para a educação nos próximos 10 anos, vislumbra que até 2020, a metade de nossas escolas estejam funcionando em tempo integral.
Às vezes pensamos estar longe essa data, mas não custa lembrar que no Plano decenal discutido em 1993, ou na LDB de 1996, esperávamos que em 2006 muitos desses índices já tivessem sido atingidos/superados e percebemos que nada, ou muito pouco foi realizado em educação, mais de 10 anos depois.
O governo federal, na intenção de incentivar a evolução da implementação de escolas de tempo integral tem disponibilizado um aumento de verbas na ordem de 25% para o ensino fundamental e 30% para o ensino médio, no FUNDEB. Mesmo assim, as prefeituras e os estados têm mostrado resistência na implantação dessa escola integral. Recentemente liberou 1,5 bilhões de recursos para educação profissional.
Participando das discussões do Plano Municipal de Educação em 2008/2009, aqui no município, ouvi professores e diretores de escola se colocando contra tal modalidade de ensino. As razões são sempre baseadas naquilo que viram ou até, apenas ouviram, das escolas de tempo integral que conheceram. São argumentações que falam de coisas como: as crianças não vão querer ficar o dia todo na escola, ou então, as mães precisam das crianças para olhar outras crianças.
Pois bem, também digo que se a escola de tempo integral for a extensão da escola parcial que temos hoje, esqueça! Não serve! Nossa escola é cansativa, atrasada, fragmentada, autoritária, calorenta, apertada, inadequada fisicamente, sem recursos. Digo isso por que conheço muitas.
Vejo professores pagando de seus bolsos lembrancinhas, diretores completando com rifas, almoços, bazares, festas e dinheiro da cantina a manutenção do prédio, o tempero da comida, o livro de presente a um concurso realizado. Todos sabem que não adianta esperar do poder público. Hoje, se alguém quiser que as coisas andem nas escolas, que façam por conta própria, com seu próprio dinheiro. Os governos simplesmente não fazem. Não vou nem falar das despesas do professor com sua formação em serviço. Deixo para outra vez esse assunto.
E quanto à necessidade da família de ter a criança em casa para tarefas, não precisamos lembrar que é direito da criança o estudo. Está no estatuto, é lei, dever do estado. É preciso oferecer creches aos “pequenos” para que sejam resguardados os diretos dos “maiores” de acesso ao estudo.
Em Apucarana (PR) a prefeitura implantou a escola de tempo integral em 2001 e tem hoje TODOS os seus alunos matriculados em regime integral. Seu índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2009, foi de 6,0. Essa é a meta do governo federal para 2020.
Crescer na avaliação não depende só do número de horas, mas também do que é feito nesse tempo extra. Não é apenas com quantidade que se melhora o índice, nós, professores, sabemos exatamente o que os 200 dias causaram ao ensino.
Outro equívoco comum é achar que a extensão do horário utilizada para aulas de reforço, ou seja, mais aula chata, de forma tradicional como tapa buraco do turno extra. O aluno vai odiar ainda mais estar na escola. É tortura ampliada.
É preciso uma proposta pedagógica bem feita, elaborada com a comunidade, ouvindo os alunos, os professores e, antes de mais nada, autonomia para que a escola encontre seu caminho.
No entanto, sabemos que a vontade política de transformação social pela educação não sai das promessas de campanha. Nossos governantes não desejam mudança porque mudar significa colocar em risco suas próprias cabeças. Para quê mudar a situação caótica do analfabetismo funcional, por exemplo, se os governos continuam sendo eleitos e reeleitos conforme seus interesses? Eles precisam, desejam a permanecia desse nosso caos intelectual, educacional para que possam continuar comandando a massa de eleitores submissa e dominável. O conhecimento liberta e é ameaçador.
(*) Professora
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