Fernando Henrique Cardoso, você se lembra dele? E Cleyton Trindade? Duvido que se lembre. Quando ainda era inquilino do Planalto, FHC foi visitado por um adolescente. Cleyton tinha 16 anos, e havia sido menino de rua em Manacapuru, cidade a 80 quilômetros de Manaus. Só por essa informação, vê-se que o problema dos meninos de rua não é exclusividade das metrópoles. A infância vive agora ameaçada em todo lugar. Recuperado, Cleyton trabalha para tirar outros meninos da rua, numa autêntica lição de vida.
Na tal visita, Cleyton pôs um boné na cabeça de FHC. Com o detalhe de o garoto ousar passar a mão na cabeça do presidente para virar para trás a aba do boné. Num instante, o garoto ficou famoso, e os jornalistas correram atrás dele para uma entrevista. Lendo a que ele deu ao Jornal do Brasil, tive minha atenção atraída para uma pergunta específica. O repórter queria saber o que Cleyton fazia "para se divertir". E o garoto respondeu com toda naturalidade:
- Vou a igrejas pentecostais e a festas de arraial.
Observou isso, meu irmão? O rapazinho visita igrejas "para se divertir", do mesmo modo como frequenta festas de arraial. Para ele, é tudo a mesma coisa. Embora não concorde com ele, compreendo a confusão do rapaz. Compreendo, porque há igrejas que parecem mesmo existir apenas para o divertimento das pessoas. Em vez de inspirar o respeito e a solenidade próprios da presença de Deus (Is 6.1-3; Hc 2.20), essas igrejas criam um clima tal que as pessoas de bom senso têm mesmo é que rir. Mas é trágico. Alguém precisa dizer a esses irmãos que igreja não é circo, que púlpito não é picadeiro, que pastor não é palhaço, que culto não é programa de auditório. A liturgia evangélica vive hoje grave crise de identidade. Que fatos como esse nos ajudem a definir a nossa postura na presença do Deus Eterno! Do contrário, as pessoas dirão da igreja o que De Gaulle disse do Brasil: "não é sério".
Pr. João Soares da Fonseca
jsfonseca@pibrj.org.br
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