quinta-feira, 5 de abril de 2012

As lentilhas da razão

Pr. ISRAEL BELO DE AZEVEDO

Pergunta um crítico:
-- Por que as religiões não ensinam a perguntar? Por que seguir ensinando que tudo está sabido, revelado e respondido?
Gosto das perguntas.
Gosto de responder a perguntas debruçado no interior da minha fé, fé cristã, fé que não nega a razão.
Começo pelo primeiro questionamento.
Falo pela fé cristã, na qual há os que não perguntam, consumindo acriticamente os ensinos que são ministrados, quando a recomendação da Bíblia é examinar tudo e só reter o que é bom. Desde Lutero é caro o princípio do exame livre das Escrituras Sagradas. Se elas são infalíveis, porque divinamente inspiradas, sua interpretação é absolutamente relativa.
Somos convidados a perguntar.
Dou um exemplo: deparamo-nos com a inolvidável história de Abraão. Deus, que abominava sacrifícios humanos, pede que ele sacrifique num monte o seu único descendente. Após uma longa caminhada e tendo chegado a hora de o cutelo esfacelar o corpo de Isaque, Deus suspende o sacrifício e mostra a Abraão o cordeiro a ser imolado.
Por que?
A narrativa bíblica não oferece sequer uma pista para a resposta.
As perguntas ficam no ar.
Cabe a cada um responder.
É instigante ser cristão.

Diante da pergunta dupla de um crítico ("Por que as religiões não ensinam a perguntar? Por que seguir ensinando que tudo está sabido, revelado e respondido?"), considero a segunda.
Na fé cristã, tudo está sabido, revelado e respondido?
Aquilo que precisamos saber de essencial está sabido, revelado e respondido na Bíblia.
Precisamos saber que somos amados por Deus. Isto está revelado na Bíblia. A vida é curta demais para ficarmos sem saber que somos amados.
Precisamos saber que o amor de Deus se demonstrou na vida-morte-ressurreição de Jesus Cristo. Isto é sabido por quem lê a Bíblia. A vida é curta demais para ficarmos tateando em busca de uma resposta transformadora como esta.
Precisamos saber se a vida se esgota aqui ou prossegue pela eternidade. Isto está respondido na Bíblia. Afinal: este não é um assunto para se filosofar, mas para se ter convicção.
Quanto ao resto, que venham as lentilhas.

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