Em 2006, o pr. Ary Velloso concedeu entrevista ao Instituto Jetro. Reproduzimos aqui para edificação do povo de Deus. O tema foi sucessão pastoral.
Sucessão pastoral é um assunto que não
pode ser negligenciado ou ignorado por nenhum pastor, ou mesmo líder de
ministério. Por isso, convidamos Ary Velloso para nos falar sobre a experiência
de passar o rebanho a um sucessor após 25 anos atuando como pastor sênior da
Igreja Batista do Morumbi.
Ary Velloso é missionário da SEPAL, professor na
Faculdade Teológica Sul Americana e pastoreia a Igreja Batista Catuaí, em
Londrina. Ele fala sobre questões relevantes a serem consideradas no processo
de sucessão e mostra, com bom humor e sabedoria, a maneira bem-sucedida com que
conduziu esta questão em seu ministério.
Como foi deixar a Igreja Batista do
Morumbi após tantos anos como pastor principal? Como a igreja reagiu a esta
mudança?
Ary Velloso - Não é fácil deixar um
trabalho que você ama e que por 25 anos esteve dando tudo o que podia para ver
o trabalho crescer e pessoas chegando ao Reino. Mas uma frase que já ouvira com
alguma freqüência, não necessariamente voltada para o pastorado, era: “começar
bem é muito importante, mas terminar bem, ainda é muito, muito melhor.” Minha
esposa foi a mulher sábia que me deu o primeiro toque sobre isto. Depois das
explicações dadas, as quais posso mencionar depois, algumas pessoas não
concordavam e achavam que não era a hora, mas, no todo, a igreja entendeu bem,
embora houvesse algumas lágrimas - não sei se de alegria ou tristeza!!! O fato
é que chega um momento em que atingimos o limite da nossa capacidade e insistir
é muito perigoso.
Na sua opinião existe um momento certo
para pensar o processo de sucessão pastoral?
Ary Velloso - Não. O líder deve sempre
ter em mente que ele não é eterno. Mais hoje, mais amanhã e ele precisará dar
posse ao seu sucessor. Nos anos 90, cheguei a sondar o Pr. Ed René Kivitz para
a possibilidade de ser o meu sucessor. Em l995 eu já estava preparado para
entregar a sucessão da Igreja para um colega de equipe, mas não deu certo.
E para executá-la? Qual o momento
ideal de “parar”, de passar o rebanho para um outro pastor?
Ary Velloso - Quando a igreja está em
paz, quando as finanças estão em ordem, quando o futuro é promissor, quando se
tem uma boa equipe pastoral e quando, até aonde você sabe, a igreja não está
orando para você ser transferido para a Glória.
Sabemos que as denominações lidam de
forma particular com o processo de sucessão pastoral. Mas de acordo com sua
experiência ministerial, quais são os passos fundamentais a serem dados no
desenvolvimento da sucessão, independentemente de qual seja a igreja?
Ary Velloso - Como já disse, é preciso
ter uma equipe pastoral boa, na qual você confia que a visão não vai se perder
no espaço e que a igreja vai ser bem cuidada. Para isto acontecer, o líder não
pode ser uma pessoa insegura, que tenha medo de trazer para sua equipe homens
que sejam como ele ou melhor do que ele.
Quais os principais cuidados a serem
tomados num processo de sucessão pastoral? Que fatores não podem ser
negligenciados?
Ary Velloso - Difícil dizer, mas claro
que as qualificações já estipuladas na Bíblia, nas cartas a Timóteo e Tito, devem
ser o principal parâmetro. De preferência, não pode ser alguém que caia de
pára-quedas. A igreja vai ter grande dificuldade em assimilá-lo, a não ser que
ele seja uma pessoa extremamente carismática e envolvente. Em alguns casos, a
igreja não tem autonomia para dizer não. Neste caso, pastor e igreja sofrem. Eu
cheguei a pensar em fazer isto, mas depois vi o perigo.
Na sua experiência de sucessão pastoral, quem foram as pessoas envolvidas na escolha do sucessor?
Ary Velloso - No principio, foi
nomeada uma comissão constituída de Presbíteros, mas por causa da minha
presença e por eu não ter dado um tempo determinado para eles, a sucessão foi
ficando de lado, pois a idéia era, “ah! O Pr. Sênior ainda está aí...” Foi aí
que eu determinei uma data para eles decidirem quem seria o meu sucessor e que
eu não iria participar de reuniões em que fosse tratado este assunto.
Como lidar com as diferentes
expectativas e opiniões dos membros e liderança da igreja em relação ao novo
pastor?
Ary Velloso - Viajando para muito
longe. Caso contrário, você fica no caminho do seu sucessor e ele não consegue
implantar a sua filosofia de ministério.
De forma prática, como o pastor pode
treinar e habilitar seu sucessor? Há um trabalho a ser feito intencionalmente,
no intuito de se preparar este sucessor?
Ary Velloso - Sim, convivência é a
coisa principal. Mesma teologia (os membros podem até ter uma teologia
diferente, mas a liderança precisa estar coesa, crendo nas mesmas verdades),
caso contrário, a igreja ficará em grande confusão, pois o velho pastor
ensinava uma coisa, o novo ensina outra coisa...Mas temos que ter em mente que
nem sempre o que desejamos acontece, Jesus teve o seu Judas e Paulo o seu
Demas.
O pastor deveria investir na
preparação de mais de um sucessor?
Ary Velloso - Creio que ele não deve
dizer que está treinando ou discipulando a pessoa para ser seu sucessor, isto
criaria uma expectativa e a pessoa poderá fazer coisas para provar que ele é de
fato e de direito o sucessor, quando muitas vezes não é. A melhor coisa é ter
uma equipe capaz e depois deixar que a liderança da igreja escolha o sucessor,
ele continuará com a amizade, respeito de toda a equipe e de toda a igreja.
Isto é terminar bem.
O senhor observa que ainda há pastores
que se consideram insubstituíveis e negligenciam a importância de se pensar e
planejar a sucessão pastoral? O que o senhor diria a estes pastores?
Ary Velloso - Colega, você não é
eterno. A Causa demanda que ao chegar ao limite da nossa capacidade, devemos
dar lugar ao outro. Fique longe e vai dando graças a Deus que o trabalho lá
aonde você estava vai bem melhor do que quando você lá estava. Lembrando que o
que importa é o REINO.
FONTE: INSTITUTO JETRO
Reprodução autorizada desde que
mantida a integridade dos textos, mencionado o site www.institutojetro.com e
comunicada sua utilização através do e-mail artigos@institutojetro.com
Publicado em 19.04.2006
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