Lição 2
– Não há outro evangelho
Texto bíblico: Gálatas 1.6-10
Texto áureo: Romanos 1.16
Neste
estudo, focalizaremos a brilhante defesa do apóstolo Paulo pela pureza do
evangelho de Cristo. O alvo em vista é o genuíno evangelho do Reino (Mt 4.23;
24.14), que foi transmitido aos apóstolos (At 1.2; 2Pe 3.2) e, por fim, a nós,
pela Palavra de Deus (1Pe 1.23-25). Será uma rica oportunidade de avaliar
nossas motivações e, sobretudo, para reafirmar um fé coerente com os princípios
bíblicos (Ef 2.20).
Análise do problema
Talvez
não haja palavra mais importante para a missão cristã do que evangelho (gr. euangelion, Boas-Novas). Paulo, certamente, pensava assim. “Em
contraste com as seis ocasiões (descontando os paralelos) em que euangelion é usado pelos escritores dos
Evangelhos, o termo é encontrado sessenta vezes, ao todo, nos escritos de
Paulo.”[1].
Em
geral, as epístolas paulinas contêm um voto de ação de graças após a saudação
inicial (1Co 1.4; Cl 1.3; Fp 1.3). Mas isso não ocorre em Gálatas. Antes,
imediata e abruptamente, Paulo diz-se perplexo
– o vocábulo grego pode significar uma gama de palavras como chocado, surpreso,
pasmo (Gl 1.6a).
A
perplexidade de Paulo foi causada pela distorção intencional do evangelho de
Cristo que ocorria na Galácia, por influência dos judaizantes (Gl 2.4a). Eles
questionavam o ensino apostólico sobre a graça e aliciavam os cristãos à
obediência da lei de Moisés (Gl 2.4b).
Fé
ou obras? Graça ou lei? Justiça de Deus ou justiça por méritos próprios? Essas
são questões cruciais, pois envolvem o princípio bíblico-doutrinário da
salvação.
Os
cristãos da Galácia enfrentavam um dilema: viver a liberdade cristã na esfera
da graça ou consentir com o domínio escravizador da lei. O problema parece
recorrente no Novo Testamento, pois a oposição judaizante ao apostolado de
Paulo foi intensa e incansável (2Co 11.3,4,13,22; 1Ts 2.15,16). Entretanto, a
reação paulina não deixou por menos. Seu argumento mostra-se direto e incisivo:
não se pode denominar “evangelho” uma mensagem de salvação que não
provenha do ato gracioso de Deus (Gl 1.7). No concílio de Jerusalém, a tese
de Paulo foi confirmada (At 15).
Os gálatas e nós, hoje
Em Gálatas, Paulo
ensina que todo e qualquer desvio intencional na mensagem do evangelho é
considerado uma perversão, uma descaracterização do evangelho (Gl 1.6-9).
Num
panorama mais amplo, o problema da igreja na Galácia não é tão diferente do que
vivemos, hoje, no que se refere à essência do termo evangelho. O momento atual da história da igreja revela-se, às
vezes, embaraçador. Entre outras barbaridades, presenciamos:
•
o uso da fé evangélica como moeda de troca no mercado consumidor cristão;
•
uma geração de líderes espirituais gananciosos e descomprometidos com a Palavra
de Deus;
•
uma insistente postura de autojustificação e de religiosidade ritual legalista,
pela maioria;
•
um cristianismo cada dia mais sensorial e menos racional.
Essas
falsas representações do evangelho dão pouco – ou nenhum – valor à origem do evangelho.
O fato de o evangelho proceder de Deus, de Cristo, do Espírito (Rm 1.1; 15.19;
1Ts 1.5) acrescenta à mensagem de salvação um elevado grau de exigência moral e
espiritual (Fp 1.27). Para os que pervertem o evangelho, entretanto, a
evangelização apresenta apenas a faceta adjetiva e utilitária. A sagacidade dos
filhos das trevas ao fazer uso do evangelho para anunciar apenas o que ele pode
oferecer – prosperidade, sucesso, bem-estar, tudo a serviço do homem – é de
fato algo sedutor (e perigoso!).
ð
Que exemplos podemos dar dessa descaracterização do
evangelho?
ð
Será que essa distorção de sentido continua
incomodando líderes cristãos, hoje?
A essência do evangelho
A
Associação Internacional de Fragrâncias estabelece quatro categorias para os
perfumes com base na concentração de suas essências. A fragrância menos
acentuada é a água de colônia – 3-5% de essência, duração máxima de 6h – e a
mais forte é o extrato de perfume – 15-40 %, duração máxima de 24h. Assim, aprendemos
que essência diz respeito à duração e intensidade.
O
modo como viveram e morreram os apóstolos, nos primeiros 100 anos do
cristianismo, revela seu apego à essência do evangelho. Eles exalavam o bom perfume de Cristo (2Co 2.15), o
que pode ser percebido pelos exemplos seguintes:
(1)
sua renúncia pessoal em prol do testemunho do
evangelho (1Ts 2.2; At 20.24a);
(2)
sua disposição incansável para enfrentar
açoites e prisões em razão da pregação do evangelho (Lc 21.12; At 5.18,29,40);
(3)
sua aceitação serena do destino implacável a
eles reservado – perseguição e martírio – por pregar o evangelho, em
cumprimento ao mandado de Deus (1Co 4.9;
Hb 11.36,37).
ð Qual tem
sido a "duração" do bom perfume de Cristo em nós?
ð Até que ponto pretendemos
ir para levar adiante a mensagem do evangelho?
A herança do evangelho
Os
apóstolos deixaram um legado para as demais gerações de discípulos, com o
seguinte teor[2]:
•
um anúncio histórico da morte, ressurreição e exaltação de Jesus, demonstrada
como o cumprimento da profecia;
•
uma avaliação teológica da pessoa de Jesus como Senhor e Cristo igualmente;
•
um apelo ao arrependimento e ao recebimento do perdão de pecados.
Desse
tema evangélico não podem os cristãos abrir mão, sob o risco de falsificar a
Palavra de Deus (2Co 2.17).
Não há outro evangelho, senão o do
amor
A essência do evangelho compreende a proclamação do amor de Deus pelos
pecadores (Rm 5.8; Ef 2.4). Para oferecer, gratuitamente, a salvação, o Senhor
paga um altíssimo preço – a morte na cruz (Cl 2.13,14; 1Tm 2.6). Com esse
gesto, os corações humanos podem ser inundados pelo amor misericordioso e perdoador
de Deus (Rm 5.5; Ne 9.31; Tt 3.5-7), o resultado natural da manifestação de fé no
Salvador (Jo 5.24; 2Pe 1.1).
Se encarnar o evangelho, verdadeiramente, o cristão há de fazer do amor
o seu caminho para viver (Gl 5.22a; Rm 13.8; Ef 5.2), pois assim é que se permanece
em Cristo (Jo 15.9; 1Jo 2.24). Entre outras realidades, a mensagem do amor
produz:
• segurança
absoluta da efetiva salvação propiciada por Deus (Rm 8.39);
• doação e
renúncia, em prol do serviço a Cristo (2Co 2.4; 12.10; 2Tm 2.10);
• ambiente
eclesiástico cordial e respeitador, o que representa uma derrota para Satanás e
seus intentos (Rm 12.10; 2Co 2.10,11; 13.11);
•
submissão aos que, sob a orientação de Deus, presidem sobre a igreja com
dedicação e exemplo de fé (1Ts 5.13);
• condição
imprescindível para edificação espiritual, individual e coletiva,
principalmente pela guarda da Palavra de Deus (2Tm 1.7; 1Jo 2.5).
Não há outro evangelho, senão o da liberdade
Os gálatas haviam sido
libertados do cativeiro da corrupção do pecado (Rm 8.21; Jo 8.32) e não estavam
obrigados às leis cerimoniais do judaísmo, como a circuncisão (Gl
5.1). Por
isso, o teor dessa carta fornece o perfeito exemplo da liberdade cristã.
Paulo não hesita em apontar
aqueles que desejavam destruir a liberdade que Cristo tornou possível aos
cristãos da Galácia. Com zelo, ardor e fidelidade partidária, esses falsos irmãos causavam
alvoroço, comoção e agitação na comunidade cristã. Eram perigosos para a
existência da igreja e precisavam ser impedidos. Por isso, o apelo ao anátema – uma espécie de maldição (Gl
1.8b,9b) – com dois objetivos principais: uma ordem de banimento da comunidade
(exclusão) e uma salvaguarda contra ataques semelhantes no futuro.
Conselhos úteis
Deus nos chamou à liberdade
(Gl 5.3). Portanto,
não fiquemos a espreitar o comportamento dos demais cristãos, agindo como
juízes e, às vezes, algozes. Preocupemo-nos em corrigir nossos comportamentos
pecaminosos (Tg 5.16) e em disciplinar com amor e mansidão os fracos na fé (2Tm
2.25,26).
Libertos do cativeiro do
pecado, somos
o “bom” perfume de Cristo, um aroma agradável, que exala a justiça e a paz na sociedade (Jr 23.6). Mas
para
que a essência desse perfume dure, nossa pregação e testemunho devem ter Cristo
como centro (2Jo 1.9). Dessa forma, a pregação reveste-se do poder de Deus para
a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). Que o Senhor nos ajude nessa nobre
missão!
[1]
MOUNCE, R.H. Artigo Evangelho (in: Enciclopédia histórico-teológica da
igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992,
Vol. II, p. 107.)
[2]
[2] MOUNCE, R.H.
Artigo Evangelho (in: Enciclopédia histórico-teológica da
igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992,
Vol. II, p. 109.)
Autor das Lições:
Davi Freitas de Carvalho, formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, RJ, é o atual pastor da Igreja Batista em Vila Jaguaribe, Piabetá, Magé, RJ e é o Coordenador de
Educação da Associação Batista Mageense.
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