sexta-feira, 3 de maio de 2013

Escola Bíblica Dominical - Lição 5 - 05.05.2013

Lição 5 – Conflitos sociais no cristianismo
Texto bíblico: Gálatas 2.11-14

Os anos que se seguiram à ressurreição de Jesus não foram nada fáceis para os cristãos. Foi um período de pressões políticas, religiosas e culturais provenientes de três diferentes fontes: o governo romano, o paganismo idólatra dos gregos e, principalmente, o judaísmo.

O incidente entre Paulo e Pedro, referido em Gálatas 2.11-14 – que é o objeto de estudo desta lição –, representa apenas um microcosmo da crise judaico-cristã que transparece no Novo Testamento[1]. Ainda assim, essa narrativa oferece-nos a rica oportunidade de entender como costumes e tradições interferem nas nossas relações com as demais pessoas e credos. Também, possibilita-nos estabelecer princípios de conduta no todo coerentes com a natureza do evangelho.

Análise do incidente
O contexto bíblico – A não ser o breve relato de Gálatas 2.11-14, Paulo não fornece explicações mais detalhadas da sua repreensão severa ao comportamento de Pedro (Gl 2.11). Provavelmente, o incidente ocorreu no período em que Paulo esteve com Barnabé na cidade de Antioquia, a fim de ajudar no desenvolvimento da igreja cristã que ali se formou (At 11-13). Pode-se afirmar também que essa ocorrência é anterior ao Concílio de Jerusalém (At 15), pois a única ocasião em que Barnabé esteve em companhia de Paulo foi durante a primeira viagem missionária.

O local – Antioquia da Síria foi o berço do cristianismo entre os não judeus e o ponto de partida do trabalho missionário de Paulo. Em razão de seus muitos pregadores e mestres, era o fórum do cristianismo gentílico no mundo (At 13.1). Quando Pedro veio até essa cidade, encontrou uma atmosfera completamente diferente daquela que vivia em Jerusalém.
O acontecido – Os judeus da dispersão, como os que viviam em Antioquia, não viviam tão isolados de seus vizinhos gentios. Pedro e os seus compatriotas (incluído, nesse rol, o próprio Barnabé) foram bem recebidos pelos cristãos gentios daquela cidade e, inclusive, compartilharam com eles do momento das refeições, o qual era sagrado para os judeus.

Tudo ia bem até a chegada de judeus palestinos a Antioquia. Esses viam com muita reserva essa proximidade com os gentios e esforçavam-se muito para manter sua herança religiosa intacta. Intimidado pela presença deles, Pedro passou a evitar o contato com os gentios e deixou de frequentar as suas refeições (Gl 2.12).
A resposta paulina e a mensagem aos gálatas– Esse relato serve ao propósito pedagógico de Paulo, que enfrentava problema semelhante na região da Galácia.

Paulo esteve nos dois lados desse conflito. Antes, como um orgulhoso fariseu, ele foi movido por um intenso ódio aos cristãos e pelo fanatismo religioso. Por isso, entendia bem o que estava acontecendo (Fp 3.5,6). Mas, agora, em razão de sua condição como missionário e mestre em Antioquia, o apóstolo dos gentios defendia a verdade do evangelho, que corria o perigo de ser desvirtuada (Gl 1.7). Para o bem da obra de Deus entre os Gálatas, portanto, a única alternativa de Paulo era uma tomada de posição grave contra Pedro, a fim de repreendê-lo. E ele o fez.

ð  Temos nos mostrado atentos aos desvios, intencionais ou não, do evangelho?

ð  Estamos preparados para responder com prontidão a essas perversões doutrinárias?

Pedro e os conflitos de ordem psicológica e social
Muitas barreiras psicológicas e sociais estão na base dos atos de intolerância religiosa dos judeus e da vergonha que Pedro sentiu por trair sua essência judaica, como nos exemplos a seguir:

1) Suas limitações pessoais, seus preconceitos em relação aos gentios (Ef 3.6) e os sentimentos confusos em relação à revelação de Deus;
2) Sua suscetibilidade à influência da ideologia e do tradicionalismo judaico, que ensinava a impureza dos gentios e exigia o separatismo (At 10.28);

3) A supervalorização dos costumes do grupo ao qual pertenciam – o judaísmo palestino – e dos seus estereótipos – por exemplo, a circuncisão – em detrimento da sua nova condição em Cristo (At 11.2,3).
Pedro mostrou-se preocupado, pois temia que a comunicação com os gentios viesse a “denegrir” sua imagem pública perante os judeus; receou, igualmente, as repercussões daquele contato perante os demais apóstolos, em Jerusalém. Tais temores eram sustentados por uma falsa noção de superioridade étnica dos judeus em relação aos gentios.

ð  Quantas vezes nos vemos supervalorizando nossos credos e tradições em detrimento de outros irmãos em Cristo? Piadas “evangélicas”, discussões acaloradas que em nada edificam e tantas outras atitudes preconceituosas nada mais fazem do que trazer vergonha ao evangelho...
Tensões sociais no cristianismo, hoje

O comportamento de muitos crentes, hoje, guarda semelhança com a atitude de Pedro. Quando isso ocorre, deixamos de agir do modo digno do evangelho diante da sociedade (Cl 1.9,10).
Podemos pensar em dois exemplos que evidenciam um comportamento incoerente da parte dos cristãos, hoje:

1) Inúmeras demonstrações de imaturidade nos relacionamentos eclesiásticos, num encaixe perfeito da descrição da igreja de Corinto(1Co 3.2). O tempo de conversão deveria, naturalmente, produzir maturidade na vida cristã (Hb 5.12). Mas, infelizmente, não é isso que presenciamos no dia a dia da igreja: briguinhas por cargos e posições; pessoas aborrecidas com as outras, mágoas de anos a fio, relacionamentos rompidos; birras pastorais e contra o pastor, são exemplos que evidenciam imaturidade.

2) cristãos que se deixam contaminar pela mentalidade atual do “ter” em detrimento do “ser”. Isso agrava as tensões sociais na igreja, pelo seu caráter discriminatório. Além disso, acentua as desigualdades entre as pessoas. Ainda que não seja pecado possuir riquezas, colocá-las acima de Deus e do próximo certamente o é (1Tm 6.9,17,18; Ec 5.10).
O aumento das divisões e dos conflitos nas igrejas locais parece indicar, em muitos casos, a persistência de duas atitudes equivocadas, as quais são:
● de um lado, ocorre, na igreja, uma sobrecarga de tradições e comportamentos estereotipados, que são transmitidos de geração em geração, sobre os crentes. Nesse sentido, cristão é sinônimo de alguém submisso e obediente ao sistema religioso e, por isso, útil.

O problema dessa atitude, entretanto, é que, em muitas vezes, fidelidade a um corpo de tradições não significa, necessariamente, fidelidade a Cristo. Somente com liberdade de pensamento e de expressão pode ocorrer o discernimento espiritual, sem o qual não poderemos desmascarar falsos mestres, falsos pastores e falsas igrejas (2Pe 3.15-18).
● do outro lado da moeda, muitos adotam um estilo ultraliberal de oposição gratuita a toda e qualquer tentativa de conformação religiosa, seja de ordem eclesiástica local ou denominacional.

Falta, nesses casos, temor a Deus (Sl 5.7). A igreja não nos pertence. É propriedade de Cristo. Não é uma construção de pedras e tijolos, mas sim uma edificação composta pelos salvos, pedras vivas (1Pe 2.5). A conformação com Cristo é, sem sombra de dúvida, conformação com a igreja, que é o seu corpo (1Tm 6.3).

ð  Estamos preparados para responder com confiança, diante do mundo, a razão da esperança que há em nós?

ð  Por que os traços da identidade cristã, tão visíveis na descrição do Novo Testamento, parecem diluídos neste século XXI?

Conselhos úteis
A atitude de Pedro nos faz perceber o quanto a cultura religiosa pode ser perigosa. A de Paulo, o quão intensa é a transformação do ser humano quando do encontro vívido com o Redentor...

A polêmica entre Paulo e Pedro revela o quanto pode ser angustiante, doentia e terrível a vida religiosa à margem do evangelho de Cristo. Somente o Senhor Jesus pode restaurar as relações humanas e fazer os homens, verdadeiramente, fraternos e iguais.

Mas, para que isso ocorra, em muitos momentos, precisaremos da coragem de Paulo. Assim, poderemos lutar contra as nossas limitações de percepção, contra os maus sentimentos e contra toda essa herança cultural-religiosa marcada pela discriminação, pela intolerância, pela sustentação de conflitos – marcas terríveis de uma geração longe de Deus.


[1] Uma explicação mais ampla do problema entre o judaísmo e a igreja primitiva pode ser lida em JR. Albert A. Bell. Explorando o mundo do Novo Testamento. Minas Gerais: Atos, 2001, p. 57.

Autor das Lições:
Pr. Davi Freitas de Carvalho, formado em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, RJ, é o atual pastor da Igreja Batista em Vila Jaguaribe, Piabetá, Magé, RJ e é o Coordenador de
Educação da Associação Batista Mageense.

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