Pelada de Rua

          Escrevi a crônica abaixo em 1987, faz 23 anos. Achei legal publicá-la aqui, mesmo que você não a ache legal!

...Lá se vão eles! Bola na mão, tênis nos pés. Um desejo imenso de mostrar que são verdadeiros atletas.

          De todos, dois se destacam: o dono da bola, é claro, e o melhor de bola, ou o que faz mais gols.

          Cada um deles tem seu craque preferido. Assim, o mais escurinho é apelidado de Pelé; o mais violento com um desses zagueiros sem muita técnica.

          Na mente de cada um passeiam pensamentos de um dia ser aclamado no Maracanã por uma grande multidão.

          O campo não é dos melhores. Muitos saem com os joelhos esfolados, com o dedão do pé arrebentado ou, até mesmo, com a cara quebrada.

          A linha divisória do campo é a calçada da margem direita e a da margem esquerda da rua.    

          O gol é improvisado de latas ou pedras, quando muito, com dois pedaços de madeira fincados no chão.

          Na hora de repartir os times, que confusão! Só dois têm vagas garantidas: o dono da bola, é claro, e o melhor de bola, ou o que faz mais gols.

          Ah, estava me esquecendo! Os piores tem lugar garantido e reservado: o gol. A menos que um desses seja o dono da bola. Ele é o maior!

          O tempo de jogo varia muito e fica mais ou menos assim: até a hora em que o dono da bola for embora, ou até a hora em que o Sr. João furar a bola que caiu no seu quintal ou, até mesmo, quando a bola for de encontro à vidraça e a espatifar. Neste caso, nem o dono da bola fica. Todos correm!

          Quanto à marcação do placar, muitas vezes gera-se uma grande confusão. Não tendo rede, a bola que passa perto do gol é um bom motivo para confusão. Nessa hora, dois podem resolver a questão: o dono da bola e o mais forte da pelada. Aqui, o melhor de bola não tem vez, pois geralmente não é o mais forte nem o dono da bola. O que os dois disserem, o dono da bola e o mais forte da rua, está dito, pois a pelada pode acabar, ou todos entrarem na...

          Finalmente, há substituições. À medida que chegam outros peladeiros, as substituições acontecem. E dos que estão jogando, só três tem vagas garantidas e não sairão: o dono da bola, o melhor da pelada e o mais forte da rua. Aqui os três se unem, ainda que, o melhor de bola fique de orelha em pé.