Não preciso apresentar a irmã Sandra. Pelo sobrenome todos identificam ser parente de Pelé e, pelos fatos recentes, a filha que ele só reconheceu na justiça, depois de teste DNA, e que morreu em 18.10.06.
Não é o foco discutir a atitude de Pelé quando foi confrontado por uma moça que dizia ser sua filha e se negou veementemente a reconhecer, isso acontecendo depois de uma batalha judicial. Nem sobre sua ausência no sepultamento, pois, se fosse, falariam também. O foco é a atitude da irmã Sandra em recusar tratamento por acreditar em milagre (segundo amigos, ela deu testemunho num canal de tv, dizendo-se curada).
Segundo matéria de “O Globo On line”, de 18.10.06, “a médica Martha Perdicaris afirmou que Sandra poderia ter sobrevivido mais tempo e, eventualmente, até conseguido se curar se não acreditasse tanto em um milagre e recusasse o tratamento”. Registrando palavras da médica, informa: “O que matou Sandra foi seu fanatismo religioso. Ela era muito resistente ao tratamento. Só fez três sessões de quimioterapia”. Acrescenta que “o hospital exigiu que Sandra assinasse um termo de responsabilidade, isentando a instituição pelo tratamento inadequado e que a filha de Pelé teria dito a ela que o pastor de sua igreja a havia curado”.
Para não suscitar qualquer dúvida, declaro: “Eu acredito em milagres!”. Escrevo esta crônica na véspera dos 78 anos de minha mãe. Vive com muita disposição (considerando-se, logicamente, os problemas pertinentes da idade), muita alegria, dirige um bazar missionário da Igreja, lê a Bíblia e literaturas cristãs todos os dias, só falta aos cultos quando faz frio ou muito vento. Quem conheceu minha mãe com quase 50 anos de idade só pode concluir que houve um milagre. Lembro-me também do irmão Gilberto, crente piedoso de nossa Igreja. Já em idade bem avançada, sofria com enfermidade. Sintomas davam impressão de Mal de Parkinson e, naquele tempo, tomografia computadorizada era muito difícil. A fila no serviço público era quilométrica para esse tipo de serviço e conseguimos facilitar com a visão da Igreja. Antes de marcar num hospital no Rio, o irmão Gilberto cai no banheiro, o lavatório é arrancado do lugar e seu braço cortado de alto a baixo. O irmão Ozéas Ornelas de Azevedo o socorre e pensamos que era o fim, já que nosso irmão era diabético. O tratamento acontece, ele se recupera, a tremura cessa, vive mais alguns anos. E que falar de Marília e Gabriela (mãe e filha)? São tantos casos. Como diz o escritor aos Hebreus, “faltar-me-ía o tempo...”.
Apesar de acreditar em milagres, acredito também que há muita pilantragem ou desvio da normalidade. Um pastor (para não dizer que falamos dos outros, esse era batista), ao visitar uma pessoa ligada à nossa família, provavelmente notando que o quadro não era preocupante (aparentemente nada de grave), declarou: “Deus me falou que amanhã a irmã sairá daqui e vai para casa”. E ela foi para a casa celestial. Num hospital da cidade, acompanhávamos a irmã Estela que cantara no Coral no domingo a noite e dois dias depois estava internada. Pensávamos tratar-se de algo simples. Uma irmã, com “autoridade de profeta”, vendo que sua cama estava rodeada de irmãos, da porta do quarto, com a Bíblia empunhada, brada: “Em nome de Jesus declaro que a senhora está curada e sairá dessa cama!”. Não passaram dois dias e Estela, irmã muito querida de todos, nos deixou.
Como declarei antes, acredito em milagres e que Deus age. Mas cuidado em afirmar que Deus fez isso, falou aquilo, revelou assim. Vale aqui o ensinamento que o irmão Alcides me trouxe depois de participar de um treinamento: “Se você controla suas emoções, você é mestre. Se você é controlado por elas, você é escravo”.
*Crônica escrita em 09/11/2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário