sábado, 11 de abril de 2020

Batismo On Line - Pr. Pedrão inaugura novo tempo

Ele ficou famoso quando participou do programa “No Limite”, da Rede Globo, feito que lhe rendeu muitas críticas por parte de conservadores. Ficou vinte e um dias sequestrado, operou o coração e sua esposa entrou em coma dentro de casa, quando ouviu do médico: “A chance da Mariza sair com vida é zero!”.

Lidar com situações adversas faz parte de sua trajetória e seu espírito desbravador o levou a plantar uma Igreja a partir de sua casa, com 15 pessoas, experimentando hoje um grande crescimento na capital turística do Brasil, com aproximadamente 2 mil membros, que congregam na Comunidade Batista do Rio dentro do Shopping Open Mall na Barra da Tijuca, num espaço de 4 mil metros quadrados em quatro andares.

É casado há 35 anos com Mariza, é pai de 3 filhos e avô de 5 netos.

Segundo ele, “as pessoas estão tão preocupadas em divulgar o que para elas é polêmico, que estar praticamente 24 horas ao lado da esposa nos últimos quatro anos” - tempo em que só estava no templo para pregar e a liderança assumiu tudo – “não é realçado, isso não dá IBOPE”.

Ele testemunha: “Aqui na Igreja, as pessoas me abraçam, agora não - rsrsrsrsrs, e dizem: pastor, o senhor prega com a vida ao cuidar de sua família”.

Com a mesma simpatia de sempre, sorriso estampado no rosto, vibrante, o Pr. Pedrão conversou com a gente sem rodeios e tocou em pontos que, segundo ele mesmo, sabe que é assunto em várias rodas de conversa e nas redes sociais.

Você batizou on line, como foi isso?

Eu tentei não alterar nada na Igreja, mantive a programação de pregação, porque queria que o membro se sentisse como se estivéssemos na vida normal como Igreja. Embora a ordem das autoridades tenha vindo na segunda-feira, no domingo mesmo não tivemos reunião no templo e, naquele dia, tínhamos 44 pessoas para batizar. O pai de um batizando estava com CORONAVÍRUS. Um pastor do colegiado me perguntou ‘por que não fazermos o batismo on line’. Eu refleti sobre o assunto e começamos a nos preparar.

Em que se fundamentou?

O problema nosso hoje é que boa parte da teologia está pautada na teologia de reprodução com base na teologia histórica. É comum a gente se preocupar com o hábito, o batismo tem que ser presencial, a ceia tem que ser presencial. E a Bíblia diz o quê? A Bíblia diz ‘fazei isso em memória de mim’, mas tem que ser presente? O que tentamos mostrar para a nossa Igreja é que o vírus não pode parar a Igreja de Jesus. Quando se olha para a história do Cristianismo, a Igreja primitiva perseguida, como eles faziam batismo? Era no templo? Mas eles não tinham templo. Era nas catacumbas? Não tinha batistério. Nos rios? Não, eles seriam mortos. Eles batizavam dentro das possibilidades que o momento facultava. Aqui, vários queriam se batizar nesse tempo.

Na prática, como foi?

O batismo é uma batalha espiritual, antes do batismo acontece uma série de coisas para impedir. Fizemos o batismo no sábado, para não ter risco com internet. O vídeo foi editado e amanhã vai ao ar, será tornado público, tipo casamento no cartório e no religioso. Eu estava no batistério da Igreja, usando o sistema Zoom, eles em suas casas, com alguns familiares, marido batizou mulher, mulher batizou marido. Aparecia a nossa imagem, eu jogava água na tela, para caracterizar o batismo nas águas, ele confessava publicamente Jesus e eu dizia ‘eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo’. Eu não podia exigir que ela fosse à piscina do condomínio, a maioria está interditada. Mas teve gente que mora em casa com piscina, foi feito na piscina.


Você levantou a questão da grande comissão...

Pois é, eu falo pela Teologia e não pela História do Cristianismo, que o batismo é uma ordenança, faz parte da Grande Comissão, evangelizar, batizar e ensinar. O evangelizar e ensinar a gente pode fazer pela internet, mas o batizar não, a gente para aí. E se essa pandemia durar um ano? Vamos deixar a pessoa que recebeu Jesus e está recebendo ensino sem o batismo? Quer dizer, a Igreja para. O simbolismo do batismo é morrer para uma vida de pecado e ressuscitar para uma nova vida. Mas, a gente diz que o batismo tem que ser presencial e no batistério da Igreja. A Igreja é maior do que o vírus.

E o simbolismo do mergulho?

Sim, a palavra significa imergir, mergulhar. Mas partindo da premissa que é um ato simbólico e pode acontecer de batizarmos alguém que seja adúltero, que ainda não se converteu mesmo, apesar de ter cumprido aquelas exigências que estabelecemos. Eu já batizei uma senhora de 94 anos, com algumas dificuldades, eu iria mergulhar aquela senhora num ambiente climatizado? Eu não posso fazer uma loucura dessa. É quando o amor ao próximo supera os valores da doutrina, das minhas crenças, sem desrespeito às crenças, mas demonstrando amor àquela pessoa. Teve gente do grupo de risco, uma senhora com 78 anos. E como foi o batismo em Atos 2, três mil pessoas? Ninguém sabe.

Você entende que foi mais prático?

Sim, eu poderia marcar um de cada vez no templo, cada um entrava, eu batizava, mas, e os que estão no grupo de risco? Eu sou um deles, sou cardiopata, sou safenado. Entendo que a Igreja de Cristo não pode parar. Poderia esperar? Poderia. Mas, e a pessoa, será que ela quer assim? Como funciona na cabeça dela, ‘será que Deus não quer que eu me batize’? Para a nossa Igreja, foi tremendamente positivo. A Igreja agiu com amor, isso tem faltado entre a gente. A Igreja vibrou com esse direcionamento que um vírus não pode parar a Igreja de Cristo.

Reações...

Enquanto os evangélicos ficam batendo em quem pensa diferente, as pessoas estão indo para o inferno. O papel da Igreja é resgatar as pessoas que estão indo para o inferno e trazer para o reino. Mas os cristãos ficam nas redes discutindo predestinação, livre arbítrio, batismo e ceia on line pode ou não pode. Paulo fala dos fortes e fracos na fé, pessoas apegadas à tradição, que se guiam mais pela teologia histórica do que pela Bíblia. Quem critica uma pessoa é porque não tem relacionamento com ela.

Pr. Pedro Litwinczuk e sua esposa evangelizando no Riode Janeiro na década de 60, com um Ford Canadense que
ele recuperou após ficar anos parado no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
Fonte: memoriadosbatistas / Instagram
Sua tradição Batista.

Eu sou da quarta geração de batistas. Eu nasci no Seminário do Sul. Meu pai se formou em 1963, foi examinado pelo Pr. Éber Vasconcelos, o mentor de meu pai foi o Pr. Reis Pereira. Eles eram ‘baptistas’. Meu pai sempre foi inovador para o seu tempo, embora fosse muito conservador.

Sou conservador, meus valores são conservadores, sou casado com a mesma mulher há 35 anos, meus filhos todos no evangelho, sou absoluto nos valores. Mas eu entendo que a forma de viver o evangelho não deve obedecer a aparência, nem o que alguns querem ditar, temos que privilegiar nosso relacionamento com Deus. E só Deus é capaz de conhecer a nossa vida.

E o estigma de ser fora do normal te preocupa?

Eu sempre fui um cara fora do normal. As pessoas gostam de falar das pessoas, dificilmente elogiam. Não vão elogiar meu casamento, o cuidado que tenho com minha esposa nesses quatro anos de enfermidade dela, os meus filhos estarem todos na Igreja, porque o que vende é notícia ruim. O cara fala da televisão que só faz isso, mas ele também só replica o que é, para ele, ruim. Quando fui para ‘No Limite’, eu fui execrado no meio batista, minha filha mais velha tinha doze anos e ficou traumatizada ao ver o pessoal me detonar com ‘isso não é pastor, esse não é lugar de pastor’. Fui tema de todos os debates de rádio. Já estou acostumado com isso. Mas eu não vou transformar a Igreja num batismo on line, foi uma circunstância, uma situação pontual. O que eu posso dizer é ‘só Deus conhece o meu coração’. Também não posso impedir quem só gosta de realçar o que não gosta. Quem me conhece um pouco sabe de minha postura com família, com a Igreja, que começou na minha casa, hoje uma Igreja filiada a todos os órgãos denominacionais. Em nosso estatuto diz que, em caso de dissolução da Igreja, tudo será da Convenção Batista Brasileira, e é um patrimônio em torno de 15 a 20 milhões.

Forma x Essência 

Minha questão é: sigo o amor ao próximo ou sigo regras? Será que Jesus batizaria? Jesus fez milagre sem ser presencial. Os religiosos do tempo de Jesus queriam apedrejar a mulher, Jesus não, a amou. A gente se apega muito à forma e se esquece da essência. A prioridade são as pessoas, ela se sentir inserida. Eu nunca chorei tanto como nesse batismo ao ver a emoção das pessoas, a gratidão delas (diziam, obrigado pastor, nesse momento tão triste, eu me senti amada, vocês não desistiram de mim). Imagine que eu atendesse a forma, as pessoas querendo se batizar e eu não batizasse, e ao chegar diante de Jesus ouvisse: ‘Pedrão, por que você não batizou, são meus discípulos?’.

E pastores que estão iniciando?

Um conselho que dou é que mantenham a integridade. É isso que dá autoridade espiritual. Zelar pela família. Não ser respeitado porque é presidente da Igreja, mas como homem de Deus, a forma como cuida da família, da esposa e da Igreja. Ele não deve perder a ousadia, deve ser como Calebe. No dia em que o pastor perder a ousadia, ele jogará para a torcida, vai manter o ministério como uma rodinha rodando, mas ele não vai partir para trabalhar mais intensamente por Jesus. Ousadia com equilíbrio, com base. E valorize o crescimento da fé, crer que Deus está no controle. Eu tive que aprender muita coisa e ainda estou aprendendo, precisei me reinventar, tenho que ser pastor para este tempo.

Pós-Pandemia.
Eu acho que passaremos por um avivamento, o campo está fértil, vivemos uma situação apocalíptica, as pessoas estão correndo para Deus. Temos que aproveitar esse tempo e pregar Cristo. Então, não vou ficar preocupado com o que um ou outro vai dizer, quero pregar a Cristo.

6 comentários:

  1. Excelente matéria. Realmente nos faz oensar em muitas coisas acontecendo... Parabéns!

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  2. Esse é o meu pastor, um homem de Deus, que ama conforme Jesus nos ensina a amar! Glória a Deus por sua vida!!!

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  3. Foi um batismo singular e divinoooo! Nos sentimos muito amados com esta decisão da CBRIO em conceder este batismo on line para o nosso filho de 9 anos 🙌

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  4. Conheço esse camarada desde a década de 80. Desde quando o Pedrão não era ele. Ela era o Pedrinho, que é como o chamo até hoje. Craque de vôlei. Eu trabalhava na Golden Cross e ele na Profit(concessionária de vendas). Trabalhamos juntos, na mesma mesa, pois faltava espaço, na Adress. Adorava coca-cola light kk (garrafa de 2 litros na mesa todos os dias). Vendia até avião pegando fogo kk. Uma das referências em minha vida. Ensinou-me de verdade como ser marido e pai de família. Não é perfeito e nunca será. É bíblico. Acompanho e divulgo seus "penses" e tenho certeza que muitas sementes são plantadas. Enfim, peço a Deus que renove suas forças, sare eventuais feridas e que ele continue sendo esse carteiro de boas novas. Forte abraço Pedrinho!!!!

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  5. Esqueci de colocar meu nome no comentário anterior. Álvaro Guedes.

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  6. Parabéns Pastor Pedrão!!!
    Deus continue abençoando e orientando todas as suas decisões!!!
    Mais do que nunca precisamos fazer a diferença!!!
    Elizabeth Luz

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