![]() |
Pr. João Soares da Fonseca, Escritor |
Em 1874, os 386 primeiros camponeses italianos que desembarcaram do navio La Sofia chegaram ao Espírito Santo em 21 de fevereiro. Por isso, esse é o Dia do Imigrante Italiano no Brasil.
Nas décadas de 60 e 70, havia em nossa cidade – Colatina – tanto sobrenome italiano, que a Itália parecia ser lá. Por exemplo, o dono do açougue era Favoretto. O moinho de milho era do Menegatti. Os donos de mercearia eram: Zanetti, Margotto, Dallapicola. As oficinas mecânicas eram: uma do Dallapicolla, outra do Ballarini. Das muitas serrarias, uma era do Faroni. A primeira casa em que moramos, alugada, pertencia aos Simonassi. Depois compramos um lote, vendido pelo Zacché… O eterno deputado estadual era o João Meneghelli, de quem fui depois secretário particular. O armazém de café era do Forza. O Nicchio também tinha um. Nosso fornecedor de víveres era o Cesar Spelta, vizinho do Massariol. O maior comerciante era Dalla Bernardina. O pintor de placas era o Ludovico, meu primeiro patrão. O prefeito era Syro Tedoldi, depois Paulo Stefenoni, que derrotou Raul Gilberti. Dilo Binda era o médico mais famoso, que depois também virou prefeito. Um radialista se chamava Osvaldo Negrelli. Vittorio Nico comerciava pneus. Egisto Pezzin fazia móveis. O único seleiro (que produzia e consertava selas e arreios para cavalos) que conheci na vida era o meu primo, Pedro Palma.
No ginásio, nossa professora de matemática era a bela, porém fria, Dilza Bonggiovanni. O professor de português era o Wenceslau Ballarini. No segundo grau, o professor de história econômica do Brasil era o Zorzanelli. Aliás, eram dois Zorzanellis, irmãos. Um ensinava história, o outro português. Confirmando: português, e não italiano. A professora de desenho era Martinelli; a de francês, Barbieri; e a de inglês, Bragatto. Nosso instrutor de educação física era o exigente Edmar Margotto. “Corpo ereto”, gritava o tempo todo.
Meus colegas da escola tinham como sobrenome: Anicchini, Bassetti, Bianchini, Bortolini, Cagliari, Campana, Covre, Delboni, Facchetti, Frizzera, Gasparini, Gava, Gobbi, Guidoni, Matedi, Passamani, Pelissari, Perini, Polesi, Pretti, Sperandio, Torezani, Vago… Até na Igreja batista, o vice-presidente era Cavaleri, cuja esposa era Bortolozzo. A tesoureira era dona Ida Zipinotti. José Mariquito, filho de dona Maria das Dores Margatto, era o presidente da mocidade. Havia outras famílias de sobrenome diferente: Bendinelli, Fiorotti, Simonassi, Tagliatti, Venturotti…
Meus vizinhos eram os Chieppe, Franzotti, Gallo, Giacome, Guaitolini, Juliatti, Riva, Soneghetti, Del Santo, Trevisani, Patuso, Cecatto… No trabalho, convivi com Ludovico, Romagna, Pancieri, Pretti, Ferrari, Meneghelli… Imigrantes e nacionais viviam em doce harmonia.
Quando em novembro de 1981, fui para o Iraque, fiquei quatro horas de molho no aeroporto Leonardo da Vinci, em Roma. Com a cabeça cansada do Atlântico, e o coração agitado por muitas novas emoções e incertezas, eu só queria superficialidades. Por isso, fui a uma banca de jornais onde se disponibilizava um catálogo telefônico. Abri-o a esmo, e os nomes de Colatina saltavam aos meus olhos como conhecidos amigos de infância. Na velha Roma, senti-me como se estivesse na velha Colatina. Procurei os sobrenomes dos meus avôs pelo lado de minha mãe: Di Palma (vovô) e Busato (vovó), às vezes grafado Busatto, Buzato, Buzatto. Desisti de imediato: eram tantos, que não havia como flagrar parentesco em páginas e páginas de um catálogo inútil.
Com tanta indisposição contra o imigrante contemporâneo, creio que nos faria bem lembrar que nesta terra de Deus (Sl 24.1), todos somos imigrantes! E que mais dia, menos dia, todos seremos deportados!
Fonte: Facebook do autor: https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=10231702916415102&id=1208384522&rdid=ppFbf9MW1QQsNkCJ#
(Publicado na Revista Novas, No. 395 | FEVEREIRO | 2025 | p. 23, Editada pelo Pr. Gilton Medeiros. Disponível em sua totalidade aqui: https://juventudecrista.com.br/.../02/Novas_395-Digital.pdf