O ambiente é o majestoso ginásio esportivo da PIB de Nova Iguaçu. O programa, 94ª Assembleia da Convenção Batista Fluminense. Noite de abertura oficial. Várias autoridades são apresentadas e informados somos que o prefeito da cidade está para chegar. O programa se desenvolve com a apresentação solene de belos hinos com o Coro da PIB de Nilópolis. O presidente orienta o cântico do hino 304 CC e a mensagem a seguir, precedida da apresentação do pregador, Pr. Dine René Lota, pelo Secretário Geral, Pr. Sócrates de Oliveira. O hino é cantado efusivamente como é costume dos batistas.
Para surpresa geral, após o encerramento do hino, um dos vices se dirige ao microfone, informa a chegada de Sua Excelência, o prefeito municipal, passa-lhe a palavra, informando que todas as portas da prefeitura estiveram abertas para a realização do evento Não sabemos, exatamente, que significa portas abertas para a realização do evento, mas tudo bem.
Sinceramente, não sou contra conceder a palavra à autoridade municipal e o caso em destaque mostrou um prefeito sensato, falou pouco, não fez propaganda política, limitando-se a dirigir palavra de saudação. Mas, daí a alterar o já anunciado para privilegiar um prefeito, é muito para qualquer pessoa sensata.
Primeiro, o prefeito; depois, o pastor. Esse é um dos grandes problemas nossos. A começar por nós, pastores. Depois, lamentamos o desrespeito que reina em muitos lugares sobre a figura do pastor.
Primeiro, o prefeito, depois, o pastor. Aquele tem uma palavra urgente, este uma que pode ser esperada. Afinal, estamos tão acostumados com ela.
Primeiro, o prefeito, depois, o pastor. Prefeito tem agenda cheia, pastor está sempre desocupado. Aliás, uma de suas primeiras palavras foi se desculpar pelo atraso (já viu político chegar no horário em algum lugar?), pois estava cheio de compromissos, como se todos que estavam ali, inclusive os pastores, nada tivessem para fazer.
Primeiro, o prefeito, depois, o pastor. Prefeito não pode esperar, pastor pode. Pode ser que alguém tenha que sair e, se perder a mensagem, não há problema, mas a palavra de Sua Excelência ninguém pode deixar de ouvir.
Primeiro, o prefeito, depois, o pastor. Prefeito estudou muito, é bem formado, intelectual e, ao falar, despeja uma série de conhecimentos e sabedoria sobre o povo. Pastor, coitado, não estuda, tem QI de azeitona.
Não tenho intenção de criticar por criticar. Nem tenho qualquer predisposição contra os políticos. Sou bem recebido pelo prefeito de minha cidade, sua família é querida por mim, tenho amigos políticos e a ciência política pulula em minhas veias. Apenas, desejo colocar as coisas no devido lugar. Anunciar o pregador, cantar um hino e depois alterar para ouvir um politico é atitude impensada. É prestigiar um incrédulo e desprestigiar um crente e pastor. É dar oportunidade para que crentes concluam que ser pastor é ser menor que político e, talvez por isso, vários de nós têm caído no canto de cisne dos apelos políticos e dividido a tribuna com o púlpito. Lembro-me que o pastor Fanini, falando a respeito de um pastor que se candidatou nas últimas eleições, questionou: "Como votaremos num pastor? Vamos trabalhar para que um púlpito fique vazio? Lugar de pastor é no púlpito!”.
É uma pena. Sou dos tempos em que ouvia meu pai dizer "Pastor é a maior autoridade no mundo". Eu, que nem pensava em ser pastor, o ouvia afirmar isso. Cresci, não muito em meu 1,64, ouvi outros seguindo na mesma direção: "Ser pastor é coisa séria!”. Continuo pensando assim, pois um incidente não pode macular os propósitos d’Aquele que salva, chama e sustenta o pastor.
Para que esta crônica não termine negativamente, registro: veio o sermão logo após o prefeito. Que mensagem! Merece ser publicada, impressa e distribuída para que milhares de crentes sejam abençoados como fomos e reflitam sobre a necessidade de estarmos preparados para responder.
*Esta crônica está próxima de completar 23 anos, o fato aconteceu em julho de 2002.















