sábado, 7 de julho de 2018

A superstição do Galvão



            Eu não sou supersticioso. Mas, desde a manhã, pressentia que o dia de hoje não seria legal para o futebol brasileiro na Copa na Rússia. Ao chegar para o expediente de trabalho, leio a crônica “As cartomantes”, de Olavo Bilac.
            Dela, extraio um fragmento que despertou a atenção:

“Há quem pense que, com o progredir da civilização, diminui o número dos supersticiosos. Completa ilusão. Nunca houve tantos supersticiosos e tantas superstições como agora. A civilização causa o naufrágio e a bancarrota das religiões, mas não aplaca esta sede de saber e esta ânsia de compreender que ainda não foram satisfeitas. Morrem e sucedem-se as religiões, mas não se altera o instinto religioso; reformam-se as superstições, mas a Superstição é eterna”.

      Volto à casa para o almoço e vejo os minutos finais da eliminação do Uruguai, penúltimo time sulamericano na Copa. Logo depois, seria Brasil x Bélgica.
        Enquanto a bola não rola, vejo alguns comentários dos sempre lúcidos narrador e comentaristas da plim-plim. Um deles me desperta a atenção. Tentarei resumir:

“O Zagalo é uma legenda do futebol. É o único tetra brasileiro. Ele foi a sete finais de Copa, considerando que as semis são finais, logicamente. Se há alguém no futebol mundial que é vencedor, esse é o nosso Zagalo. E ele disse algo que a gente tem que considerar: juntando as letras de .... (o narrador se esqueceu) dá o número 13. Parece que é ‘faltam três jogos’, não, não dá. É, ele falou, mas não estou me lembrando!”.

            Pauta que segue e a animação tem que continuar. “Vamos chamar os repórteres, é o Brasil rumo ao Hexa!”, brada o narrador mais querido do Brasil. Chega o repórter, ouvidos são alguns brasileiros, animação geral, palpites de placar cada vez mais elásticos e, para finalizar, o repórter profetiza: “Brasil Bélgica, 13 letras!”.
            Foi o suficiente para o narrador se inflamar: “Tá aí, 13 letras, Brasil Bélgica, eu sabia, eu sabia, tinha 13 letras!”. Fiquei matutando com meus botões: “Brasil Bélgica. Só grafado assim mesmo! Não pode ser: Brasil x Bélgica, nem Brasil e Bélgica”.
            Mas, vida que segue, ou bola que rola. Primeiro gol da Bélgica: 13 minutos do primeiro tempo. Já seria o bastante. Mas, vem o segundo gol belga: 31 minutos. 31 invertido dá 13. Os pressentimentos estavam se confirmando.
            Mas eis que surge uma pontinha de esperança! Esperança é componente da superstição? Deixa pra lá! Renato Augusto diminui aos 31 do segundo tempo. Olhe o 13 de novo. E sabe quantas letras tem o nome do autor do gol? 13. Final de jogo, Bélgica venceu! Ih, 13 letras de novo. E tem quem acredite que o hexa virá em 2022. Some os numerais.
            Essa história de superstição é trairagem, pode dar lá, como pode dar cá! O fato mesmo é que “não é dos ligeiros a carreira, nem dos valentes, a peleja, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes o favor, mas que o tempo e a sorte pertencem a todos” - Eclesiastes 9.11.
              E o que li de gente não supersticiosa relacionando que o 13 acabou com o Brasil não está no gibi! Mas se esquece que os dois nomes principais de seu candidato podem ser grafados com 13 letras.
               

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