segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Teóloga e Professora analisa a tragédia de Santa Maria



Mestre em Educação, Bacharel em Teologia, em Letras e em Pedagogia, a professora e teóloga Delcinalva de Souza Lima (foto) apresenta sua leitura sobre o segundo maior acidente da história do Brasil, o incêndio na Boate Kiss, que vitimou perto de 250 jovens.

1 - Qual a relação da tragédia de Santa Maria com o pecado na vida humana?

Talvez alguns queiram ler uma palavra contra ir a boate, contra isso ou aquilo.... Não preciso falar disso, pois cada um é livre para ir e vir, mas deve usar sua Inteligência para avaliar onde ir. Os jovens crentes mais ainda são responsáveis nessa avaliação pois têm os parâmetros de Deus sobre aquilo que um filho seu deve ou não fazer; onde deve ou não ir. Também não vejo aí uma punição de Deus pelo fato de aqueles jovens estarem numa boate. Se assim fosse, o castigo de Deus teria que se manifestar em milhares de boates no Brasil e no mundo.

Esse foi mais um triste acidente causado pela imprudência e pelo interesse pelo lucro: normalmente essas são tragédias anunciadas: alvará vencido, ambiente revestido com material altamente inflamável. Se esse incêndio houvesse acontecido em uma das nossas igrejas estaríamos relacionando –o com o pecado?

Uma preocupação: Será que nossos templos estão preparados para um acidente deste tipo? Será que nossos templos têm saída de emergência? Será que numa circunstância de incêndio todos os que estão no templo poderão sair sãos e salvos?

2 - Qual a relação entre a onisciência de Deus e o fato acontecido?

Onisciência  é conhecer todas as coisas  e conhecer mesmo antes que aconteçam, pois a onisciência inclui a presciência. Mas não é predeterminar. O fato acontecido é de responsabilidade das pessoas, que foram criadas por Deus com inteligência, capacidade de prever consequências para os seus atos. Deus conhece todas as coisas e até conhece antes, mas Deus não determina nem nos manipula, pois se fosse assim seriamos robôs e não teríamos responsabilidade por coisa alguma e Deus seria o responsável tanto pelo bem quanto pelo mal. E não é assim, pois “toda boa dádiva desce do Pai das nuvens”. Não devemos nos perguntar por que Deus deixou acontecer, mas devemos nos perguntar: por que tantos jovens estavam ali? Por que o material que revestia o teto era inflamável? Por que o alvará estava vencido e a boate funcionando? As perguntas estão no campo humano e não divino.

3 - Como relacionar Deus, dirigente moral do universo, com a permissão para acontecer tamanha dor com jovens ceifados?

Deus dirige moralmente o universo para o fim que ele determinou: a volta de Cristo com a punição definitiva para Satanás e para as pessoas que optaram por segui-lo, por conseguinte rejeitaram a Deus e a Jesus. O ser humano é moralmente livre, pois assim foi criado por Deus. É a pessoa que decide o que fazer e como fazer; onde ir e não ir; escolhe entre o certo e o errado.  Deus não determina os atos das pessoas, nem suas escolhas morais. No entanto, Deus nos deu princípios morais para seguirmos e nos deu capacidade de escolher entre o certo e o errado. Assim Deus não é responsável pelo que aconteceu em Santa Maria como não é responsável por um avião que cai, nem é responsável por um ônibus que bate e muitos morrem.

4 - Qual é o papel da religião após uma tragédia como esta?

A religião cristã crê num Deus que é o Deus de toda a consolação; num Deus pessoal e amoroso, que estende sua misericórdia sobre justos e injustos. Então, o papel da religião cristã é agora confortar os familiares que sofrem uma dor que só Deus pode amenizar.  Além desses familiares há os feridos que ficarão hospitalizados por muito tempo, e precisarão de conforto espiritual, precisarão de amparo amoroso para suportar o duro tratamento que têm pela frente. Devemos orar por eles e quem está na região, no momento próprio,deve ir ao encontro deles com  a esperança -certeza que só Cristo dá.

5 - Conclusões finais:

Diante dessas tragédias sempre penso em como a vida é fugaz, é um vapor que logo se vai... Também penso em que ninguém sabe qual será o dia em que a sua vida chegará ao fim. Aqueles jovens julgavam ter a vida inteira pela frente, mas a vida inteira era apenas até aquele momento. Então, por não saber quando será o dia da minha morte que pessoa ser  agora com a família, com o próximo? Como deve estar o meu relacionamento com Deus agora? Como deve estar a minha alma agora? Não vivo um medo, uma preocupação doentia com a morte: vivo a certeza de que a vida é breve e de que não sei quando chegará o fim. Como vai a sua alma agora?

Além de me preocupar comigo mesma também me preocupo com aqueles que não têm a certeza de vida eterna: precisamos levar a eles o conhecimento da salvação para que eles possam escolher entre a vida e a morte. E minha oração é que escolham a vida em Cristo Jesus.


5 comentários:

  1. Professora Delcinalva, sempre sábia!
    Muito boa reflexão!

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  2. Boa reflexão: Para quem quiser uma reflexão teológica e filosófica aprofundada sobre esse desastre, leiam o excelente trexto de Ricardo Gondim,um dos grandes teólogos do Brasil:
    http://exterminadordefalsosprofetas.blogspot.com.br/2013/01/contingencia-sofrimento-e-deus.html

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