sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Meu nome tá na Bíblia, rapá!

Por Neemias Lima*

Calma. Põe o pé no freio. Não é o meu nome, embora também esteja lá. Quem escolheu foi meu avô paterno, Dr. Antônio dos Santos Lima. Sim, meu avô paterno era doutor. Muitos o recomendavam assim. Farmacêutico dos bons, era como um anjo na vida de pessoas simples e sofridas no interior do estado do Rio de Janeiro. Ele, leitor voraz, acompanhava as notícias pela Voz do Brasil e lia o que de mais importante chegava àquelas plagas. Soube que ele sugeriu o nome e minha mãe, sua nora, amou. Meses depois seu irmão, meu tio, faleceu na explosão de uma foguetaria. Foi um consolo para minha mãe, que ainda cumpria o resguardo.

Deixando de lado essa divagação, afinal o nome de quem está na Bíblia, considerando que são milhares alistados no livro sagrado dos cristãos? Trata-se daquele homem que “tentou humilhar” um entregador, ofendendo-o, discutindo com ele e realçando sua condição social em comparação ao simples rapaz.

Ficou curioso com o tentou humilhar entre aspas? Na verdade, nem precisava. O verbo tentar na terceira pessoa do singular do tempo Pretérito Perfeito do modo Indicativo elucida. Sim, porque quem foi humilhado foi o próprio anfitrião. Aliás, correção: anfitrião, não. Tanto pelo significado da palavra como pela atitude. É melhor fanfarrão. Repito, a propósito: o humilhado foi o fanfarrão. Provavelmente, nunca mais fará isso. Oxalá seja assim! Ainda que pela dor! Deve-se reconhecer que ela - a dor - é pedagógica. Ressalte-se que não é a melhor pedagogia.

Informações dão conta que o deselegante cliente sofre com problemas na esfera mental. Chegou a mostrar atestado na delegacia. Sendo verdade, e esperamos que seja, isso atenua a atitude tão violenta e mesquinha. Mas, como provoca um matuto amigo meu, “ele rasga dinheiro?”. Na elucubrada conclusão do meu amigo matuto, se não, é são. Mas isso não vem ao caso. Deixemos isso com os implicados - acusadores, defensores e julgadores. Eles que são inteligentes que se entendam.

Ah, não posso me esquecer: meu nome tá na Bíblia, rapá! E não é que está mesmo! E perceba a ironia: seu nome é o mesmo nome do entregador: Mateus. Como gostaria de ver os documentos de identidades dos dois para conferir a grafia. Sim, porque já vi Mateus, Matheus e, até, Mathaws. Ah, teve um Matteus também. Sim, a curiosidade na grafia, porque, na personalidade revelada, a diferença é abissal.

O evento revela dois Mateus: um, trabalhador, educado, digno, honrado, humilde. Outro, aproveitador, mal educado, indigno, desonrado e arrogante. Com suas atitudes, um alegra a família e outro, entristece. Imagino a tristeza desta. E a alegria daquela.

Entre os apóstolos de Jesus tinha um Mateus. Um livro do Novo Testamento leva seu nome. No capítulo 23, versículo 12, lê-se: “Aquele que se exaltar, será humilhado. Aquele que se humilhar, será exaltado”. E no capítulo 15, versículo 18, tem-se: “O que sai da boca procede do coração; é isso que contamina o homem”. É o famoso “a boca fala do que está cheio o coração”.

O nome Mateus traz o significado: dom, dádiva, presente de Deus. O presente que os Mateus receberam tiveram utilidade diferente. Um, para o bem. Outro, para o mal. Não basta ter o nome na Bíblia. É preciso ter os ensinos da Bíblia no coração. Cuidemos do coração porque dois Mateus brigam dentro de nós e não é incomum o arrogante assumir o protagonismo.

Ficou curioso com o meu nome bíblico? Foi um copeiro, que se tornou governador, reconstruiu Jerusalém e significa “confortado por Deus”. Não é difícil descobrir.

*Pastor da Igreja Batista no Braga.

2 comentários:

  1. Muito bom... As palavras fluem com clareza e organização.
    Meu nome tambem está na Biblia... o prenome e o sobrenome também. Rs

    ResponderExcluir