terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Tempo de Deus na Vida do Crente

Introdução:
Eclesiastes 3.1: “Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu”.
Outra versão diz: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu”.

Somos extremamente influenciados por uma cultura imediatista. Para nós, via de regra, vale o agora, o já, o imediato. Uma síndrome da instantaneidade tomou lugar em nossa existência e desejamos as coisas como se faz café numa cafeteira ou utilizando-se do café solúvel em água quente. Agimos como se um ‘enter’ fosse nossa saída para todas as coisas, inclusive as espirituais. É uma marca do homem chamado pós-moderno, com mais incidência no homem ocidental.


Da mesma forma, desejamos que as coisas que fogem ao nosso controle sejam assim resolvidas também. Aqui reside o grande perigo: nem sempre nos damos conta que temos um ente superior, o Deus eterno, o que dirige, o que sustenta, o que controla e, sem sua atuação, nada acontece ou deixa de acontecer.

Duas palavras gregas nos dão a idéia dessa diferença entre o nosso tempo e o tempo de Deus. São elas: “kairós e krônos”. Embora, em alguns casos, apareçam como sinônimas, elas têm sentido diferentes dentro do contexto bíblico. Kairós é usada para o tempo de Deus, o planejamento divino. Krônos para o tempo convencionado, medido, cronometrado. Kairós é divino, krônos é humano. Kairós é com Deus, krônos é conosco. Kairós é transcendente, krônos é imanente.

Dirigindo-se aos discípulos, Jesus disse: “Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente” – João 7.6. Curioso é que aqui temos kairós com idéias diferentes.

Vejamos sobre o tempo de Deus na vida do crente:

1 – O TEMPO DE DEUS NA SOLUÇÃO DOS NOSSOS PROBLEMAS
Salmo 40.1: “Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor”.
Quanto tempo esperou? Uma semana, um mês, um semestre, um ano, uma década? Ninguém sabe! Sabe-se que o salmista esperou pacientemente.
A idéia da oração determinatória falha, dentre outros aspectos, aqui: eu não quero esperar. Porque não quero esperar, eu determino, não aceito, e exijo de Deus que faça alguma coisa. Onde já se viu o menor dar ordens ao maior, o limitado exigir do ilimitado, o falível determinar ao infalível, o pecador cobrar do santo? É uma contradição bíblica.
Lembre-se: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece” – Fl 4.13. Mas lembre-se também: “Ora, muito me regozijo no Senhor por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo; do qual na verdade andáveis lembrados, mas vos faltava oportunidade. Não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre. Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade” – Fl 4.10-12.

DEUS É QUE DETERMINA A SOLUÇÃO DOS NOSSOS PROBLEMAS NO SEU TEMPO!

2 – O TEMPO DE DEUS PRODUZ EM NÓS A PACIÊNCIA
Paciência, ao contrário do que muita gente pensa, não é algo passivo. Não é cruzar os braços, entregar-se. É sinônima de perseverança, persistência. Romanos 5.1-5: “Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem obtivemos também nosso acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus. E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança; e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.
Atente para o que diz Lucas 21.19: “Na vossa paciência, possuí as vossas almas”. Outra versão apresenta: “Pela vossa perseverança ganhareis as vossas almas”.
Quem não persevera é um fracassado ou uma fracassada. O exemplo de Lula: perdeu a 1ª, a 2ª, a 3ª, zombaria de todos os lados, torneiro mecânico, aleijado, analfabeto, sem falar inglês. Mas ele não desistiu, foi, foi, foi, foi, foi e venceu! Sem entrar no mérito da política e do governo que fará, Lula ensina-nos muito sobre a perseverança. Que dizer de Ronaldo, o fenômeno? Com o joelho estraçalhado, doído, esmagado, fisioterapia pra lá e pra cá, muitos dizendo, inclusive esses mentirosos advinhadores, “ele nunca mais jogará futebol. Ele insiste, persevera, persiste, pacientemente, e se torna o artilheiro da última copa e, nos últimos dois anos, ganhou prêmios mais importantes que em toda a carreira.
Meus irmãos, falamos de exemplos de pessoas que não têm experiência de salvação com Deus. E o que dizer de nós?
NÓS ADQUIRIMOS PACIÊNCIA QUANDO ESPERAMOS O TEMPO DE DEUS!

3 – O TEMPO DE DEUS INCLUI O NOSSO TESTEMUNHO
Testemunho no sentido de falar das coisas de Deus. II Timóteo 4.1-2 exorta: “Conjuro-te diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade e ensino”. Kairós está presente nas duas vezes. A idéia de testemunhar quando as oportunidades são favoráveis ou não, quando está planejado ou não, sempre, sempre, sempre.
Para a obra de Deus e nosso testemunho, não há agenda, embora possamos e devamos planejar. Há cerca de 3 ou 4 anos, tive a responsabilidade de ciceronear o Pr. Dr. Ebenézer Soares Ferreira, durante umas três horas, aqui em Cabo Frio. Surpreendeu-me o fato de, embora resolvendo alguns assuntos no centro e parando para almoçarmos, Pr. Ebenézer, com quem se encontrava e parava conosco, falava de Cristo.
Nosso testemunho inclui, também, uma vida transparente. Não somos perfeitos, mas, também, como dizia Langston, utilizando de um neologismo “não somos pecadeiros, fabricantes de pecados”. O tempo de Deus vai operando em nós uma ojeriza ao pecado e vamos nos tornando cada vez mais inimigos do erro e amigos de Deus.

4 – O TEMPO DE DEUS TRARÁ PARA NÓS A EXALTAÇÃO
I Pedro 5.6-7: “Semelhantemente vós, os mais moços, sede sujeitos aos mais velhos. E cingi-vos todos de humildade uns para com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós”.
Um problema no entendimento da escatologia é a falta de distinção entre o “já” (agora) e o “ainda” (depois). Alguns, precipitadamente, começam a lançar mão de versículos bíblicos isoladamente e cobrar uma exaltação aqui e agora. Sim, Deus é o dono de tudo – Salmo 24.1-, mas o diabo é o príncipe deste mundo e este jaz naquele. Eu sou filho do Rei, mas o reino dEle não é deste mundo. O compromisso de Deus conosco não é só para esta vida, é para a eternidade.
A oração sacerdotal traz algumas lições que são esquecidas por muitos. Em João 17.9-21, lemos: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado, porque são teus; todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e neles sou glorificado. Eu não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo (realidade da limitação) , e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os no teu nome, o qual me deste, para que eles sejam um (finalidade), assim como nós. Enquanto eu estava com eles, eu os guardava no teu nome que me deste; e os conservei, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. Mas agora vou para ti; e isto falo no mundo, para que eles tenham a minha alegria completa em si mesmos (finalidade). Eu lhes dei a tua palavra; e o mundo os odiou (realidade dos ataques do inimigo), porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno. Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviarei ao mundo. E por eles eu me santifico, para que também eles sejam santificados na verdade (finalidade). E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um (finalidade); assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste (finalidade)”.
SEREMOS EXALTADOS NO TEMPO DE DEUS!

Conclusão:
Salmo 31.15: “Os meus dias estão nas tuas mãos; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos que me perseguem”. Outra versão diz: “Os meus tempos estão nas tuas mãos”.
Gênesis 1.1: “No princípio (idéia de tempo) criou Deus os céus e a terra”. Em Apocalipse 22.10,20, lemos: “Disse-me ainda: Não seles as palavras da profecia deste livro; porque próximo está o tempo. Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo (idéia de tempo) venho. Amém; vem, Senhor Jesus”. A Bíblia começa e termina com a idéia de tempo, o tempo de Deus.
E não podemos esquecer: daremos conta do uso do tempo que Deus nos dá.

Um poema do século XVII nos adverte:

Conta e Tempo

Deus pede estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta.
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta;
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo..."

(Autor: Frei Antônio das Chagas, Séc. XVII)

Nossa melhor atitude é, humildemente, nos colocar diante de Deus e, em quaisquer circunstâncias, perguntar: “Senhor, é o teu tempo? Estou me precipitando? Mostra-me a tua vontade, pois nada quero fazer no meu tempo, mas no teu, ó Senhor!”.
Que Ele nos ajude!

Nenhum comentário:

Postar um comentário